19 de agosto de 2008

AS CRÔNICAS DO GATO E O COELHO IV - ADEUS DE UM AMIGO




- Tenho algo importante para falar a vocês. - disse o gato com a face séria, mas levemente triste.
- De que se trata? - Perguntou o coelho intrigado.
- Trata-se de minha crescente infelicidade com essa jornada.
- Mas, nossa jornada tem sido muito proveitosa e além do mais...

Cortando o amigo, o gato continua:

- Não me refiro à nossa jornada, e sim à minha própria jornada. Sinto que não tenho aprendido como deveria. Me falta algo, e sei que só poderei encontrar isso sozinho.


Suas palavras fizeram as árvores, os insetos, e até mesmo a brisa se calarem. Fora o minuto mais longo que todos eles ja sentiram.


A canária que estava nas costas do coelho pula de seu firmamento, de frente pro gato e com lágrimas nos olhos pergunta:
- Foi algo que fizemos?
- De forma alguma, me orgulha que tenham aprendido tanto nestes tempos, mas eu não me sinto realizado, ainda me falta algo para aprender.
- Está sendo egoísta! - gritou o coelho sem poder conter-se.

Com um olhar de descaso por cima dos ombros o gato responde:
- Às vezes é necessário.
- És uma criatura detestável! Como podes falar tão friamente com seus amigos de jornada? Depois de tudo que passamos!
- Lamento. É necessário.

O coelho ergue-se furiosamente contra o gato e desfere-lhe um tapa na face.

O gato vira o rosto com o golpe, e vira somente os olhos ao amigo:
- Já terminou?

O silêncio era uma mão grande e forte que os estava estrangulando, cortando totalmente a passagem de ar em seus pulmões.


A canária soluçando em pleno pranto fala:
- Vocês dois, parem!
As palavras não conseguem cortar o clima pesado entre o olhar raivoso do coelho e o olhar frio do gato.
- Vocês dois, parem! - A canária repete.
Os olhares dos dois davam a impressão que todo aquele cenário arborizado era cinzento, nebuloso e mudo.
- Vocês dois, parem!!! - A canária grita com tanta força que faz com que suas próprias penas arrepiem.


O coelho volta a si e senta-se como de costume. Ele olha assustado para o amigo que não lhe desviara o olhar calculista por nenhuma fração de segundo, como se realmente nada daquilo que tinham passado antes realmente importasse.


- Desejo-lhes sorte. - O gato diz, e começa a andar olhando para frente e seguindo o seu caminho.


Agora também chorando o coelho grita para o amigo que começa a se afastar:


- Não pode estar fazendo isso conosco! Não pode!!!
O gato fala ao longe, quase que inaldívelmente:
- Alguns males vem para o nosso bem. Nenhuma coisa boa acontece sem efeitos ruins.
E falando baixo para si mesmo o gato continua:
- Às vezes, elas só acontecem em tempos diferentes...

E seguindo seu caminho, percebeu com o canto dos olhos os outros dois amigos virarem as costas e seguirem o seu próprio caminho.



- Vinicius Neves

9 de agosto de 2008

ZUMBIS E MARIONETES DA FUTILIDADE



Sempre esperamos por uma mensagem divina que venha a nós como resposta, algo que seja inquestionavelmente um sinal divino. Pra que? Para fundarmos nossas ações, nossos pensamentos, nossas vontades e tudo aquilo que nos interessa e que temos vontade de fazer.
Óbvio, isso não acontece (ao menos não com frequência).
Porque na verdade, quem espera mesmo um sinal é o próprio Deus; espera um sinal de ação nossa. Ele não espera que nós sejamos impulsionados pelo sobrenatural para ter que fazer alguma coisa, Ele quer ver até onde a gente pode, até onde temos forças pra lutar, até onde podemos nos mostrar capazes e dignos da ação Dele.
Muito fácil falar "Deus, minha vida está uma merda, concerta ela por favor.", se nós fossemos Deus, aceitariamos um pedido desses? Às vezes nem temos problemas tão grandes assim, mas somos tão cegos e afundados no nosso mundinho que uma goteira de problema é uma enchente em nossas vidas, e somos acomodados a sempre ter alguem pra arrumar as coisas para nós; amigos fiéis, pais, mães, irmãos, etc; e quando aparece algo que a gente não quer expor para eles nós apelamos para Deus! Imaginem nós mesmos como pessoas que podem ajudar as pessoas, mas que ninguem nunca nem lembra de nós, só lembram quando precisam de ajuda e não tem mais a quem recorrer. É degradante, é angustiante, é EGOÍSTA!
Todos os dias vemos atrocidades nos jornais, na internet, na boca do povo, e falamos "meu Deus, que horrível!", e fica por isso mesmo. Claro, dessa forma vamos mostrar que nos importamos, quando na verdade não estamos nem aí. Prefiro mil vezes que alguém fale "E daí?" com sinceridade do que fingir que se importa.
Se hoje há tantos problemas, tantas dificuldades, simplesmente vemos como culpados os outros. Somos sempre senhores da verdade e que se todos entendessem o que pensamos, o mundo seria bem melhor. Claro. Somos mesmo egoístas a esse ponto. Afinal de contas, deveríamos estar sentados ao lado de Deus para aconselha-lo a governar o universo.
Nos fazer vivos e preocupados com palavras vazias nos faz sermos zumbis ou marionetes de nossas futilidades.
Aí depois de um tempo morremos, e a preço de quê!? A sermos mais um peso morto que só fez número no mundo e entrou para as estatísticas dos acidentes, dos latrocínios e das doenças?
Que vivamos pelo mundo inteiro, não só pelo ser único e egoísta que somos! Deixar nossa marca aqui é deixarmos uma marca para as gerações futuras. Morreremos na carne, mas viveremos nos espíritos futuros de quem acreditar em nossos pensamentos e ações!
Enquanto eu viver serei jovem, depois disso já não é mais comigo. Sou imortal até que me provem o contrário.





- Vinicius Neves