15 de janeiro de 2017
IMPULSOS
Fabio acordou nervoso naquele dia.
Pegou as chaves da moto e vestiu a jaqueta de couro que Fernanda tinha lhe dado no ultimo natal.
A carta de amor estava em cima da mesa de jantar - estrategicamente posicionada para que não fosse esquecida quando saísse. Ansiava pelo encontro, pela surpresa, pelas fortes emoções.
O anel de noivado sofrera um pequeno acidente e estava com um pequeno arranhado - que provavelmente passaria despercebido entre tantos sentimentos alvoraçados. Tudo tinha que sair perfeito.
Fernanda (ou Nanda para os mais íntimos) conheceu Fabio depois de uma época difícil de sua vida: sofria de depressão; e foi nos vai e vens do consultório do psiquiatra que conheceu Fabio - saindo de mãos abanando da fachada do consultório.
- Você também foi ao consultório do Dr. Torres?
- Claro. Acabo de vir de lá.
Uma curiosidade daquela época era que ele sequer tinha entrado no consultório. Tinha voltado atrás no último segundo.
Porém, essa conversa despretensiosa rendeu um ano e meio de namoro. Fernanda nem precisava mais de seus antidepressivos. A velha mania de sentar no parapeito da ponte Estaiada, pensando em um fim rápido foi substituída por encontros secretos na calada da noite.
As pessoas poderiam interpretar mal: Imagine trocar o lugar onde supostamente uma atitude impensada poderia dar fim aos seus dias por noites acaloradas de beijos sob as estrelas.
Fabio avisou que atrasaria dessa vez. Acontece.
Quando por fim chegou, o sorriso de Nanda irradiou no meio da noite. Seus cabelos flutuavam levemente com a brisa fresca e ele pôde sentir em seu hálito um cheiro doce de fruta. Ela adorava chiclete de morango.
Deram um beijo como se não houvesse amanhã, a lua ardia em brilho.
Ele sorriu e disse:
- Trouxe algo para você.
- É?
- É.
Puxou do bolso interno da jaqueta um anel que embora muito desejado naquele instante só poderia tomar seu lugar de direito depois de lida a carta de amor cuidadosamente escrita à mão.
Nanda se empolgou e começou a ler em voz alta, o sorriso quase que alcançava cada uma das orelhas.
Mas então parou de ler e seu rosto se desfigurou parar uma expressão completamente preocupada.
Parou de ler a carta. Já sabia o que havia escrito nela.
Fabio tinha a chave se seu apartamento e de algum jeito conseguiu encontrar essa carta.
Fabio se aproximou mais ainda de Nanda que começara a encher os olhos de lágrimas.
- Isso não significa nada
Olhando do chão ao rosto dela, Fabio se moveu vagarosamente e respondeu:
- Eu sei.
Então empurrou a moça - que caiu de costas rumo ao caminho que nunca tivera coragem de percorrer.
O anel foi para a água em seguida, logo chegando ao seu fundo.
Olhando uma ultima vez a carta que tinha um tal de "Julio" assinado no final - antes de amassa-la e trazê-la novamente para seu bolso, Fabio desabafa:
- Eu sei.
- Vinicius Neves
Assinar:
Postagens (Atom)