O gato e o coelho desceram com suas trouxas, soltaram seus fardos e admiraram a paisagem; era uma pequena cidade de interior com uma estação de trem rusticamente ornamentada em madeira, o sol era agradável e a brisa macia como deveria de ser. Era rodeada de longos pinheiros. As árvores cediam uma sombra tranqüila e fresca.
Tudo ali era agradável a não ser a inquietante sensação de não haver ninguém por perto à quilômetros e pelo silêncio que os fez corroer por dentro.
- Quem está aí? - Uma voz aguda e baixa perguntou.
Os dois amigos se entreolharam atônitos com aquela voz sem remetente.
- Dois amigos, eu sou o coelho e esse é meu amigo gato. - O coelho disse um tanto que hesitante. - E você? Quem é?
- Ah! Pensei que eram meus amigos que tinham chegado.
Observando melhor, o gato viu ao lado de uma das janelas velhas e empoeiradas da estação um velho e precário poleiro, que parecia ter sido feito às pressas. Um dos lados estava despencado na base de madeira suja. Os pregos tortos e enferrujados saltavam para fora em todos os lugares. e as farpas eram claramente vistas. Foi quando ele notou que aquela voz fina vinha de uma pequena canária que estava em pé na parte mais alta do poleiro.
O coelho notou em seguida logo após o cutucão do gato, apontando para a carinha triste do pequeno pássaro.
- Seus amigos? - Perguntou o coelho.
Sim. Estou esperando eles à um bom tempo.
Chegando mais próximo o gato perguntou:
- O que aconteceu com eles?
A canária que até então só tinha olhado fixamente para frente voltou-se para o gato e disse:
- Nossa! Seus passos são suaves, mal pude ouvi-lo chegar perto de mim!
O gato olhou para os olhos da canária compadecidamente; eles tinham as retinas acinzentadas, quase brancas.
- Mas sim, respondendo a sua pergunta; meus amigos me trouxeram até esta cidade prometendo-me voltar logo. Se bem me lembro chegamos da mesma forma que vocês.
- Você se refere ao trem? – Perguntou o coelho.
- Sim, esta é a estação final disso. Isso que nos trouxe, isso que trouxe vocês; desde então tenho estado aqui dia e noite esperando-os chegar.
- Isso faz quanto tempo?
- Eu nem me lembro mais... Mais tempo do que eu gostaria...
- É de se estranhar. Um trem não deveria ter como ponto final algum lugar maior e mais movimentado?
- Isso não passa de Ilusão.
- E desde quando você não enxerga? Ou já nasceu assim? - O gato pergunta.
- Não... Não nasci assim... Sei apenas que faz quase tanto tempo quanto tempo que estou aqui.
O coelho pergunta:
- E como conseguiu sobreviver este tempo todo aqui sem ninguém para te ajudar neste estado?
- Quando se está em Ilusão, nada mais importa a não ser o objetivo que temos centrado.
- Isso é triste. – Disse o coelho.
- Você ainda acredita que eles voltarão?
- Sinceramente não. Acreditei por muito tempo, muito tempo mesmo. Só permaneci aqui por falta de escolha.
- Sempre temos escolhas. – O coelho disse.
O gato olhou espantado para o coelho, esses tipos de frases geralmente eram ditas por ele, naquele momento entendera que seu amigo havia evoluído. Mas.. e ele? No que tinha mudado? No que tinha evoluído?
- É verdade. – Concordou o gato. – Você pode vir conosco, seria um prazer.
- Vocês têm certeza disso? Não vou atrapalhar?
- De maneira alguma, novos amigos são sempre bem-vindos, cada um contando a sua história faz com que todo o resto aprenda. Quando cada um divide sua experiência de vida com os outros, cada um aprende mais sobre a infinidade que é viver.
- Só não sei se ainda consigo voar, fiquei muito tempo parada.
- você pode viajar em minhas costas.
- Que ótimo!
Sendo assim, com a ajuda do gato, a canária subiu em suas costas.
Os três viajantes começaram a pegar uma trilha que levava para fora da cidade.
- Está vendo uma grande rocha do nosso lado direito? – Perguntou a canária.
- Sim. Estamos ao lado dela.
- Ótimo! Passando por esta rocha já não estaremos mais em ilusão.
Os passos suaves do gato fizeram o coração da canária bater mais forte.
Quando passaram pela rocha, a tarde já caía e o sol escondia-se atrás de uma uniforme cadeia de serras, aonde o caminho que levavam parecia encontrar-se com a paisagem.
Deixando lágrimas escorrerem pelos seus pequenos olhos, a canária suspirou fundo e dentro de sua alma a alegria e o calor de um novo dia que logo iria nascer lhe trouxe novas esperanças.
- Eu tinha esquecido como o pôr-do-sol era lindo. – Disse a canária enquanto as sombras de seus corpos desapareciam na luz agradável e ofuscante do sol.
- Vinicius Neves
Tudo ali era agradável a não ser a inquietante sensação de não haver ninguém por perto à quilômetros e pelo silêncio que os fez corroer por dentro.
- Quem está aí? - Uma voz aguda e baixa perguntou.
Os dois amigos se entreolharam atônitos com aquela voz sem remetente.
- Dois amigos, eu sou o coelho e esse é meu amigo gato. - O coelho disse um tanto que hesitante. - E você? Quem é?
- Ah! Pensei que eram meus amigos que tinham chegado.
Observando melhor, o gato viu ao lado de uma das janelas velhas e empoeiradas da estação um velho e precário poleiro, que parecia ter sido feito às pressas. Um dos lados estava despencado na base de madeira suja. Os pregos tortos e enferrujados saltavam para fora em todos os lugares. e as farpas eram claramente vistas. Foi quando ele notou que aquela voz fina vinha de uma pequena canária que estava em pé na parte mais alta do poleiro.
O coelho notou em seguida logo após o cutucão do gato, apontando para a carinha triste do pequeno pássaro.
- Seus amigos? - Perguntou o coelho.
Sim. Estou esperando eles à um bom tempo.
Chegando mais próximo o gato perguntou:
- O que aconteceu com eles?
A canária que até então só tinha olhado fixamente para frente voltou-se para o gato e disse:
- Nossa! Seus passos são suaves, mal pude ouvi-lo chegar perto de mim!
O gato olhou para os olhos da canária compadecidamente; eles tinham as retinas acinzentadas, quase brancas.
- Mas sim, respondendo a sua pergunta; meus amigos me trouxeram até esta cidade prometendo-me voltar logo. Se bem me lembro chegamos da mesma forma que vocês.
- Você se refere ao trem? – Perguntou o coelho.
- Sim, esta é a estação final disso. Isso que nos trouxe, isso que trouxe vocês; desde então tenho estado aqui dia e noite esperando-os chegar.
- Isso faz quanto tempo?
- Eu nem me lembro mais... Mais tempo do que eu gostaria...
- É de se estranhar. Um trem não deveria ter como ponto final algum lugar maior e mais movimentado?
- Isso não passa de Ilusão.
- E desde quando você não enxerga? Ou já nasceu assim? - O gato pergunta.
- Não... Não nasci assim... Sei apenas que faz quase tanto tempo quanto tempo que estou aqui.
O coelho pergunta:
- E como conseguiu sobreviver este tempo todo aqui sem ninguém para te ajudar neste estado?
- Quando se está em Ilusão, nada mais importa a não ser o objetivo que temos centrado.
- Isso é triste. – Disse o coelho.
- Você ainda acredita que eles voltarão?
- Sinceramente não. Acreditei por muito tempo, muito tempo mesmo. Só permaneci aqui por falta de escolha.
- Sempre temos escolhas. – O coelho disse.
O gato olhou espantado para o coelho, esses tipos de frases geralmente eram ditas por ele, naquele momento entendera que seu amigo havia evoluído. Mas.. e ele? No que tinha mudado? No que tinha evoluído?
- É verdade. – Concordou o gato. – Você pode vir conosco, seria um prazer.
- Vocês têm certeza disso? Não vou atrapalhar?
- De maneira alguma, novos amigos são sempre bem-vindos, cada um contando a sua história faz com que todo o resto aprenda. Quando cada um divide sua experiência de vida com os outros, cada um aprende mais sobre a infinidade que é viver.
- Só não sei se ainda consigo voar, fiquei muito tempo parada.
- você pode viajar em minhas costas.
- Que ótimo!
Sendo assim, com a ajuda do gato, a canária subiu em suas costas.
Os três viajantes começaram a pegar uma trilha que levava para fora da cidade.
- Está vendo uma grande rocha do nosso lado direito? – Perguntou a canária.
- Sim. Estamos ao lado dela.
- Ótimo! Passando por esta rocha já não estaremos mais em ilusão.
Os passos suaves do gato fizeram o coração da canária bater mais forte.
Quando passaram pela rocha, a tarde já caía e o sol escondia-se atrás de uma uniforme cadeia de serras, aonde o caminho que levavam parecia encontrar-se com a paisagem.
Deixando lágrimas escorrerem pelos seus pequenos olhos, a canária suspirou fundo e dentro de sua alma a alegria e o calor de um novo dia que logo iria nascer lhe trouxe novas esperanças.
- Eu tinha esquecido como o pôr-do-sol era lindo. – Disse a canária enquanto as sombras de seus corpos desapareciam na luz agradável e ofuscante do sol.
- Vinicius Neves
Um comentário:
Clap Clap
Tenho orgulho de ser seu amigo!
suiahuishauihsui
Parabéns velho, cada história esta ficando cada vez melhor.
;*
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