20 de agosto de 2010

AS CRÔNICAS DO MELRO PRETO



Ele estava debaixo de uma árvore no meio da floresta.
Era uma noite de céu limpo onde uma grande lua clareava tudo ao redor.
Triste, desolado, com suas asas quebradas, era um Melro preto que tinha desistido da vida, desistido de tudo. Caíra tantas vezes da árvore que acabou por quebrar suas asas.

Solitário, perdeu as esperanças de alguem o encontrar. Seu belo canto alegre se transformou em um gemido de agonia e desesperança.
Ele só sabia olhar com tristeza para suas asas e cantar em tom triste:

"Que poderei eu fazer além de perecer?
Estou fraco, com frio e cansado
Me recolhi ao meu mundo, ninguem passará ao lado
Nunca fiz mal a ninguem, não tenho coração malvado
Porque o maior dom que a vida me deu, me foi tirado?"

Ele passou tanto tempo ali que esqueceu-se das horas, esqueceu-se de como era voar, esqueceu-se do que era esperança.

Seus olhos fundos e negros perdiam o brilho a cada minuto.

Uma lágrima rolou.

Ele adormeceu.

A noite caía intensa, e um pouco de neblina se formava com o frio da madrugada. O Melro já não sentia mais nada, o corpo ja tinha se esfriado demais.

Então ele morreu.

No mundo nada mudou... A noite continuava a mesma coisa, a vida de outros animais da Terra também. Ninguém na Terra sentiu falta do Melro, ninguém chorou a sua morte, ninguém enterrou seu corpo, ninguém sequer soube ou se prontificou a querer saber o que tinha acontecido com ele.

De repente, uma estrela brilhou mais forte que as outras e iluminou o Melro. Ele abriu os olhos, confuso. Suas asas se consertaram sozinhas e ele sentiu um pouco de dor com isso. Ele pôde sentir que elas estavam melhores do que antes.

A morte que rondava a escuridão daquela noite não mais o atormentava, o medo foi se desvinculando de suas belas penas pretas como óleo da água. Ele cantou de alegria pela primeira vez em muito tempo. E foi maravilhoso. O silêncio da noite fez com que ecoasse por todos os cantos da floresta e todos os animais pudessem acordar e ouvir que ali renascia algo maior e melhor do que a simples existência deles. Todos se comoveram com aquela cantoria que parecia ser mais feliz do que o raiar de um novo dia.

O Melro finalmente usou seus olhos fundos para enxergar além das trevas.

Ele olhou para suas novas asas, tentou voar desajeitosamente, mas acabou caindo na relva. Ele riu de si mesmo, e tentou denovo. Bateu as asas o mais rápido que pôde e atravessou por entre folhas de árvores e neblina. Subiu aos céus acima da floresta e pôde ver sua antiga vida indo embora, algo lhe proporcionou algo novo em sua vida.

Aquele Melro fraco, cansado, medroso e triste não existia mais. Por um momento viu de cima o lugar em que tinha morrido e a impressão que teve foi que havia deixado ali algo que não era mais seu, um simples pássaro preto. Mas em um piscar de olhos aquele pensamento desvaneceu na noite, também foi deixado para trás.

A vida inteira o Melro esperou o momento de poder decolar.
O Melro pegou sua canção triste, colocou-a dentro de seu coração e a fez melhor.

A vida inteira ele esperou por aquele momento, pelo momento em que poderia ser livre.


- Vinicius Neves

12 de agosto de 2010

SONDA-ME, SENHOR


Senhor, sonda meus olhos para que eu enxergue apenas aquilo que é iluminado por ti, e que as trevas não possam me cegar, me fazer pisar em terrenos esburacados pelas enganações dos perversos.
Que eu não me torne frio, que o seio de Tua palavra venha me aquecer a cada dia com o abraço afetuoso que somente Tu podes oferecer.
Que eu não me sinta mais vazio, pois já estive enterrado pela solidão e a descrença, tentando preencher o "nada" com coisas menos importantes que o Seu amor, e nada mais pôde matar a minha sede, nem extinguir a minha fome, nem aquecer a minha alma, pois os amores do mundo são passageiros e venenosos.
Teu amor é verdadeiramente único, não quero encontrar outro amor que não provenha de Teu coração.
Guia-me pelas tempestades das provações, dando me a capacidade e a oportunidade de ser sério sem deixar de ser feliz. Tranquilo sem deixar de ser ativo. Amar sem deixar de ser amável.
Teu amor é tão grande que supri a falta de qualquer outro amor.
És misericordioso o suficiente para me deixar errar o caminho, mas nunca me deixar perder o rumo de volta.
Não desejo que minha vida seja um mar de rosas, pois em um mar de rosas certamente haveriam corais de espinhos.
Não me preocupo com o futuro, pois sei que o Senhor move nossos corações a cada segundo para os fins que provém de Tua vontade, e a Tua vontade é perfeita!
Eu poderia me corroer por dentro se não soubesse que você é que está na direção da minha vida. O que for para acontecer, acontecerá.
Prepara minhas mãos para Tuas obras, para que eu os faça com maestria.
Prepara meus pés para caminhar, para que quando eu for tropeçar, possa me reerguer.
Prepara minha mente para o futuro, para que eu não perca o raciocínio.
Prepara meu coração para amar, para que eu não esqueça que "ela" está por aí, sendo preparada também e aguardando o Teu tempo por mim.


- Vinicius Neves

7 de agosto de 2010

UM PRESENTE CHAMADO "PRESENTE"


Porque o valor é associado com a morte?
Temos tanto virtudes como defeitos, isso nos faz humanos, mas a primeira coisa que acontece quando morremos é sermos informalmente canonizados por quem estava ao nosso redor. Pessoas falam "vou sentir saudades", "era uma boa pessoa", "porque ele!?", dentre milhares de outras besteiras.
A pessoa pode muito bem passar despercebida por entre a multidão de pessoas que a rodeiam no seu cotidiano, no seu dia a dia, e ninguém nunca lhe dá o valor necessário, ninguém nunca lhe dá a atenção devida, muitas vezes nem se pronunciam sobre algo que possam vir a sentir por aquela pessoa, fazem joguinhos, fingem que "odeiam" ou que "não ligam" para aquela pessoa, mas no fundo esconde um sentimentalismo (barato ou não) que se aflora apenas na hora do luto por aquela pessoa.
Eu me pergunto: Porque não demonstrar isso tudo enquanto se tem a pessoa ao lado!? Qual o sentido em se lamentar depois que alguém morre!? A pessoa não irá te ouvir, não irá te responder, e certamente, já não fará mais falta alguma você querer falar, demonstrar isso que você tem por dentro, mesmo que seja apenas uma mera consideração da qual você NUNCA demonstrou ou se preocupou em demonstrar.
A vida é muito curta para fazermos "joguinhos", muito curta para acharmos que "outro dia" podemos mostrar o que poderíamos estar mostrando agora.
Só se vive uma vez, e ainda sim estamos oprimindo tudo o que poderíamos estar libertando pela simples idéia de que "algum dia terei tempo para fazer isso, mas não é o momento certo.". O momento certo para falar "eu te considero", "gosto de estar com você", "você me faz bem", "eu
te amo", é AGORA. O amanhã é desconhecido.

Viva o presente que Deus te deu, um presente chamado "presente".


- Vinicius Neves