21 de setembro de 2012

NÊGA


Só quero uma casa de campo ao seu lado, sem ninguém para atrapalhar
Colher os frutos que só a felicidade pode dar
Fazer no final de semana um almoço bem gostoso cheio de sabor
Nem todo Sazon do mundo tem mais sabor que o meu amor

No quintal a gente planta um pé de tamarindo e um pouco de hortelã
Para lembrar dos bons dias juntos, para investir melhor no amanhã
Deixar uma rede pra modi passar a noite abraçados, pintando estrelas
Deixar um pouco de lado o mundo, deixar um pouco de lado as tristezas

Nêga, hoje em dia te enxergo melhor
Só preciso do seu contato, e não são de lentes que estou falando
Sem armação nenhuma, nem de óculos, nem de mentiras

Já tive dias que me desesperei por ainda não saber de sua chegada
Dessa viagem trouxe malas prontas para me fazer feliz, no meu peito fez morada

Te abraço forte, te beijo, você é meu maior ensejo; e eu não te largo por nada.


- Vinicius Neves

12 de setembro de 2012

PIMENTA NO ORKUT DOS OUTROS


Sorrisos solitários para lugares que não podem te ver
Cutucadas pretensiosas cheias de segundas intenções
Curtidas sobre coisas que nunca nos importaram, para pessoas que mal conversamos
Compartilhamento de pensamentos que nunca adotamos

Superstições que nunca se concretizam
Histórias que nunca são confirmadas
Conecções que vivem caindo
Seguidores que pensam que te conhecem

Janelas que abrem quando não queremos
Janelas que fecham quando não queremos
Eventos que nunca confirmamos
Propagandas que nos aborrecem

Privacidade invadida
Informações pessoais divulgadas
Protestos que não mudam nada
Protestos que mudam tudo

Canais com programação ruim
Depoimentos bonitos, porém falsos a nosso respeito
Visitas recentes que não nos agregam em nada
Comunidades desamparadas

Postagens que não chegam ao destinatário
Comentários fracos e dispensáveis de pessoas com pouca ou nenhuma cultura, imaginação ou bom senso

A vida virtual é estranhamente parecida com a vida real.


- Vinicius Neves

DA BABILÔNIA À MONTANHA


O vento tocou suavemente meu rosto
Meu espírito esvoaçou, sentindo-se exposto
Os olhos sujos da cidade contemplaram o divino
Desses que não se encontram em prédios, na natureza é dividido

Nas águas geladas da montanha lavei minha roupa suja
Essa roupa que visto todos os dias para ver a gritaria muda
Gritos que ecoam nos olhares de quem vive no cinza e no concreto
Na competição de almas perdidas que batalham sobre sua própria definição de "certo"

Minha alma desolada e cansada foi rasgada no meio
Pelo forro piscante do céu noturno e pelo frio que desce da montanha como um cavalo sem arreio
Meus pés tocaram pedras que estavam no meu caminho
Elas fizeram com que doesse mais, mas me livraram de cada espinho

O que muda de uma realidade para outra são os valores
De um lado um grande enfeite sem gosto, do outro a simplicidade com uma infinidade de sabores.


- Vinicius Neves

4 de setembro de 2012

A COISA MAIS CONTAGIOSA DO MUNDO


Naquele dia no metrô, estava eu prestes a ser sufocado, apertado, e obviamente ignorado pela maioria das pessoas. Nos transportes públicos de São Paulo é assim: cada um prefere se preocupar com seus limitados centímetros cúbicos ao querer se deparar com a vida dos outros, é claro.

Já tinha lido a respeito que o espaçamento adequando entre duas pessoas é de aproximadamente um metro, para não termos a sensação de que nosso espaço particular e íntimo não esteja sendo violado por terceiros. É por isso que quando se entra no elevador, por exemplo, as pessoas vão se amontoando nos cantos. Não é para dar passagem para ninguém, é para ficar o mais longe possível da outra.
Esse é um dos motivos do porque as pessoas se irritam tanto em trens e metrôs lotados, o espaço particular e íntimo se torna público e violado. Instintivamente as pessoas se sentem acuadas, o que causa essa ansiedade.
Pois bem, não vim aqui para ser psicólogo de elevador. Vim contar uma história!

Como dizia, estava eu prestes a ser sufocado, apertado e obviamente ignorado em mais uma noite de metrô lotado, saindo da Barra Funda, sentido Corinthians-Itaquera. Estava na plataforma aguardando o próximo trem, lendo um livro interessantíssimo de Augusto Cury. Um homem do meu lado, com seus quarenta e tantos anos já estava estressado com o empurra-empurra da fila, claramente de mau-humor. Ele me viu lendo o livro e avisou:

- Quando a porta do trem abrir, você não vai mais conseguir ler esse seu livro.

Olhei para ele com um grande sorriso e disse: mas é claro que vou! Dá-se um jeito nisso!

O trem chegou. A fila apertou. Vagão lotou. Lugar nenhum restou.

Apertado, quase sem ar, segurei como pude o livro a poucos centímetros do rosto e continuei minha leitura com um grande sorriso no rosto, era realmente muito interessante o livro.

Aquele mesmo homem ficou me observando e disse:

- Esse livro desse ser bom mesmo, para você ainda querer lê-lo apertado desse jeito e com um sorriso desse no rosto. Isso aqui é o inferno, com esse bando de gente mal educada e esses vagões sem espaço.

Olhei mais uma vez para ele com um sorriso maior ainda e respondi:

- O livro é bom sim, mas eu não posso perder o meu humor por causa disso aqui. Realmente é caótica a situação dos transportes públicos na nossa cidade, mas de que adiantaria me estressar com isso? Me irritar e me estressar não vai mudar o fato de que estou apertado aqui, e além disso estragaria o belo dia que tive. Tenho que pegar metrô quase todos os dias, vou me privar de ler um bom livro por causa disso? Vou perder a minha compostura por causa disso? Claro que não! É muito melhor seguir sorrindo e aproveitar o meu dia, eu não posso perder tempo com coisas inúteis como o mau-humor.
Quando saio de casa tenho duas escolhas: a primeira é me irritar com problemas que eu sei que vão aparecer e nesse caso, que nada poderei fazer para dribla-lo. Ou então enfrento tudo tranquilo, não deixando de aproveitar as coisas boas que passam no meu caminho.

O homem me olhou surpreso. Disse que realmente essa era uma boa forma de lidar com esses tipos de problemas, parou com aquela expressão irritadiça e seguiu seu caminho inteiro sorrindo.


- Vinicius Neves