31 de dezembro de 2012

PEDAÇOS DE PAPEL, PENSAMENTOS NO CÉU


A poesia escorre das veias para o papel assim como as nascentes procuram os mares
Poesias, cânticos, salmos, crônicas de nossas vidas que enxergamos nos olhares

Os pés não vacilam mais
As mãos nos deixam em paz

Não existe "aquela forma" de fazer tais escrituras
Todas são a forma mais lúcida da alma e sua rupturas
São desejos de criança em rugas de velhice que o tempo deixa acumular na alma
É uma tentativa que nunca é vã, apesar de às vezes ser falha

Deixe que a caneta rabisque no papel aquilo que guarda debaixo de seu assoalho
Saber o que é voar sem tirar os pés do chão, as asas da imaginação é que farão todo o trabalho
É quando repousamos o coração no melhor dos leitos de sua estância
Ignorando a inspiração mesmo que a milhares de quilômetros de distância.


- Vinicius Neves

27 de dezembro de 2012

REFLEXO DO CORAÇÂO DE DEUS


Pai, eu sei que não sou o melhor dos seus filhos.
Também sei que não faço tudo aquilo que deveria fazer, principalmente no que diz respeito ao Seu nome.
Estou aqui para dizer que não sou nada mais que nada, sou a parte mais baixa de sua criação; pois até mesmo os seres mais insignificantes devem fazer mais em Teu nome.
Sou egoísta, fraco e tenho as pernas vacilantes. Sou confuso e minha mente me invade de pensamentos insensatos.

Eu quero ser melhor mas infelizmente sou humano demais para isso.

Sou um ser extremamente simples que acredita que tem algum tipo de luz especial, mas eu não tenho. A única coisa especial que tenho é o Teu amor e a Tua misericórdia em mim! Que a propósito eu não mereço e nem nunca merecerei!
Eu só posso correr para Ti e lutar para estar o mais próximo possível do Teu coração! Pois as batidas dele é que fazem com que eu acorde! Cada batida é um tapa em meu rosto para que eu me torne algo cada vez mais distante desse mundo que me engana, me faz sofrer e que tenta furiosamente me tragar.

Meu Senhor, me preencha apenas de Tua presença. Me sentir um segundo sem Ti ao meu lado é pior que a morte.
As pessoas me ouvem falando do Teu amor e não entendem o que é viver algo arrebatador e transformador como as Tuas palavras.
Eu quero que elas vejam em mim os reflexos de Teus desejos para cada coração.


- Vinicius Neves

20 de dezembro de 2012

INICIO DO MUNDO


Na minha velha agenda abandonada escrevo meus votos para o inicio do mundo
Já que todos só pensam no fim, resolvi fazer diferente, coisa de nobre vagabundo

O mundo já acabou faz tempo, à partir do princípio de não termos dividido nossos momentos

Algum alienígena ou civilização futura talvez encontre esses escritos
A minha preocupação não é deixar essa vida jovem, mas nesse curto período não ter vivido
Embora eu saiba que isso é praticamente impossível
Os dias foram carregados ou arrastados de intensidade utopicamente infalível

Se perder as pessoas deste mundo, não tenho mais nada a perder
E fica me sobrando tanta falta de você

Os Maias fizeram com que as pessoas tremessem até as meias
O fim do mundo folclórico encanta como deveria encantar o canto das sereias
É certo que nossa existência irá acabar muito antes que o planeta
Somos pesados e numerosos como muitas porções de areia

Mas por enquanto não será dessa vez o fim
Guarde seu sorriso para mais um dia, confie em mim
E se o amanhã fizer alguma diferença
Que se perca o medo da noite como sentença.


- Vinicius Neves

19 de dezembro de 2012

CEGOS DE ESTRADA


Um monge caminhava por um estrada cheia de tropeços e precipícios.
Conforme andava ia encontrando pessoas cegas que mal conseguiam andar sem cair. As pessoas pediam migalhas, misericórdia e até mesmo implorando pela morte.
Ao invés disso tudo o monge colocava as mãos sobre seus olhos e entregava de bom grado um pouco de sua própria visão, tornando-o cada vez mais cego também.

Conforme os dias iam passando, as pessoas em seu caminho que tinha recebido aquele pouquinho de luz no meio das trevas que se estendiam diante seus olhos iam recuperando completamente sua visão.
Porém, conforme as pessoas iam cruzando seu caminho, o monge ia perdendo sua própria capacidade de enxergar, transformando seus olhos em terra seca. Mas isso não o impediu de fazer com que as pessoas se libertassem de suas prisões particulares, o desejo de seu coração era libertá-los dessas celas sem grades.

Então em uma determinada manhã o monge não conseguia enxergar mais nada a sua volta, era necessário apalpar as pedras e árvores para não cair e com a outra mão segurava um galho que servia como uma espécie de bengala para que seus pés vacilantes não errassem ao se firmar em seu caminho. Resolveu tampar seus olhos com um lenço branco, para que nada pudesse ferir seus olhos enquanto caminhava sem poder enxergar os obstáculos a sua volta.

A falta de visão o cansava, porém se arrastava por seu caminho como podia. As pessoas passavam ao seu lado e o desprezavam. Afinal, agora era um cego qualquer - sujeito a pré-julgamentos.
Foi quando uma das pessoas que havia recuperado a visão graças ao monge o viu naquele estado e resolveu ajudar, mas ainda não sabia como. Então espalhou pelas cidades ao redor sobre a história e dezenas de pessoas apareceram no dia seguinte, todas que haviam sido curadas e ainda outras dezenas de pessoas que haviam sido curadas por essas pessoas - que agora haviam aprendido essa bela arte de libertação.
Todos se uniram e juntos devolveram de uma só vez toda a visão perdida pelo monge, se forma que agora ele poderia enxergar muito mais longe do que antes e juntando com a visão do seu interior, poderia ver mais nitidamente o que havia no coração de cada um.

Olhou ao seu redor e não agradeceu, pois sabia que cedo ou tarde aquilo aconteceria; olhou para o horizonte e seguiu seu caminho deixando para trás um galho que usava como bengala em que tinha a inscrição "Fé" e no lenço "Meu coração já enxergava todos vocês muito antes de perder a visão, eu só não pude parar de seguir em frente".


- Vinicius Neves

4 de dezembro de 2012

A GAROTA QUE VEIO DO MAR


A garota que veio do mar veio para descansar o coração
Para livrar-se de sua mágoa, pois persistir no erro é uma tentação

No mar tranquilo do amor gostava de banhar seu corpo
Agora está longe das ondas que batiam e brincavam com seu rosto
As estrelas que caíam do céu chorando apagavam o seu brilho nesse mar
Que além de ter coisas boas, tinham suas lágrimas que as faziam afundar

O olhar vagava por cima das águas que um dia cobriram o seu ser
Pensando na possibilidade de em suas correntezas se perder
A maré puxa, empurra, afunda e leva embora
Faz ressurgir, emergir e traz de volta

O som de seu santuário é forte e inabalável
Porque insiste em chamá-la de forma inigualável
O maior tesouro de suas profundezas subiu até a superfície
Cansada de nadar naquele imenso de mesmice

Então o mar se sentiu pequeno quando viu que não tinha mais jeito
Perdeu aquela que deixava azul o seu leito, seu pleito, seu peito
Águas cristalinas é o que chamam atenção da garota que veio do mar
É essa mesma transparência que inspira a esperança em seu desejo de amar.


- Vinicius Neves

3 de dezembro de 2012

OS RASGOS DA ALMA


Pobre poeta moribundo que quer se alimentar de alma
Essa sua alma te trai quase todos os dias e você insiste em se apegar a ela
O espírito é forte, porém está cansado e o corpo já não tem vontade de se mover
Transformado sejam esses seus olhos que insistem em contemplar a escuridão em sua frente
O brilho nos olhos desaparece depois que as trevas da decepção o amordacem

Todos os dias acorda pensando em desistir de escrever, desistir de sonhar, desistir que acreditar que um dia seu coração alcance os sonhos que tanto almeja encontrar

É necessário ir embora, é necessário sair do comodismo, é necessário sumir da vista
Eis que vem chegando o tempo em que talvez as pessoas sintam falta do poeta que tanto tentou tocar suas almas, tomar a escuridão de cada um, nem que para isso precisasse se encher dela

Gritos da alma que ecoam pelo coração
A solidão é necessária, se reinventar na reclusão
Os olhos que vão secando e se transformando em terra seca
Onde nada pode florescer, a vida se ausenta

O poeta nunca esquece
E que fardo terrível é esse!
É uma maldição que não desejaria para ninguém
Que olhe sempre para o coração
Sem nunca olhar a quem

Por favor, não tente entender
Perderia anos de sua vida sem saber
O como, onde e porque de minha confusão
É um crime para mim mesmo sem conclusão

No porão da minha alma onde tudo o que guardo a rasga por dentro querendo escapar
Eu luto ao máximo e mostro para todos um belo sorriso tranquilo que esconde um destino vulgar.


- Vinicius Neves