19 de dezembro de 2012
CEGOS DE ESTRADA
Um monge caminhava por um estrada cheia de tropeços e precipícios.
Conforme andava ia encontrando pessoas cegas que mal conseguiam andar sem cair. As pessoas pediam migalhas, misericórdia e até mesmo implorando pela morte.
Ao invés disso tudo o monge colocava as mãos sobre seus olhos e entregava de bom grado um pouco de sua própria visão, tornando-o cada vez mais cego também.
Conforme os dias iam passando, as pessoas em seu caminho que tinha recebido aquele pouquinho de luz no meio das trevas que se estendiam diante seus olhos iam recuperando completamente sua visão.
Porém, conforme as pessoas iam cruzando seu caminho, o monge ia perdendo sua própria capacidade de enxergar, transformando seus olhos em terra seca. Mas isso não o impediu de fazer com que as pessoas se libertassem de suas prisões particulares, o desejo de seu coração era libertá-los dessas celas sem grades.
Então em uma determinada manhã o monge não conseguia enxergar mais nada a sua volta, era necessário apalpar as pedras e árvores para não cair e com a outra mão segurava um galho que servia como uma espécie de bengala para que seus pés vacilantes não errassem ao se firmar em seu caminho. Resolveu tampar seus olhos com um lenço branco, para que nada pudesse ferir seus olhos enquanto caminhava sem poder enxergar os obstáculos a sua volta.
A falta de visão o cansava, porém se arrastava por seu caminho como podia. As pessoas passavam ao seu lado e o desprezavam. Afinal, agora era um cego qualquer - sujeito a pré-julgamentos.
Foi quando uma das pessoas que havia recuperado a visão graças ao monge o viu naquele estado e resolveu ajudar, mas ainda não sabia como. Então espalhou pelas cidades ao redor sobre a história e dezenas de pessoas apareceram no dia seguinte, todas que haviam sido curadas e ainda outras dezenas de pessoas que haviam sido curadas por essas pessoas - que agora haviam aprendido essa bela arte de libertação.
Todos se uniram e juntos devolveram de uma só vez toda a visão perdida pelo monge, se forma que agora ele poderia enxergar muito mais longe do que antes e juntando com a visão do seu interior, poderia ver mais nitidamente o que havia no coração de cada um.
Olhou ao seu redor e não agradeceu, pois sabia que cedo ou tarde aquilo aconteceria; olhou para o horizonte e seguiu seu caminho deixando para trás um galho que usava como bengala em que tinha a inscrição "Fé" e no lenço "Meu coração já enxergava todos vocês muito antes de perder a visão, eu só não pude parar de seguir em frente".
- Vinicius Neves
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