21 de dezembro de 2008

CICLO VICIOSO



Já faz tanto tempo
O passado tornar-se um remendo sobre mais um momento
O sorriso que insiste em me perseguir
É uma perseguição que insiste em me fazer sorrir
É um ciclo vicioso, estou ciente disso
Cada beijo teu é uma dose para alimentar meu vicio
Posso pensar em muitas coisas, mas todas sussurram o seu nome
Sou incapaz de me alimentar plenamente de seu carinho ainda que tenha muita fome
O desconhecido pesa sobre nossa balança
A distancia perfura a mim como uma lança
Encontrar cada gesto seu pelo caminho
E os enterro bem fundo em meu ninho
Talvez possa parecer estranho, mas pode ser mais que desejo
Se não fosse assim não ficaria desse jeito sempre que a vejo
Cada dia com você é um pouco do que aprendo sobre sonhar
São novas possibilidades onde a vida me ensina o que é amar


- Vinicius Neves

QUERER E O PRECISAR



Sabe? Há uma diferença sutíl sobre o que queremos e o que precisamos. As duas escolhas (podemos tratá-las assim) nos fazem enxergar dois paradoxos que podem ser completamente diferentes, nos levar a ter idéias diferentes, nos fazer passar por realidade diferentes.

O que queremos é o que faz nosso sangue pulsar, o impulso que leva nosso corpo inteiro a conspirar em direção ao objetivo definido, é uma meta, um desejo intenso de transformar a simples vontade em uma explosão de gestos, expressões e atitudes.

O que precisamos geralmente é algo que sempre está na nossa frente e nunca nos damos conta como aquilo é especial, mesmo que tenham transcorrido anos, ou simplesmente algo que sempre esteve presente, mesmo que às vezes sua presença tenha se saído imperceptível.

Mas... E quando o que precisamos é aquilo que queremos (e, obviamente, vice-versa)? Se cada um em si já é difícil explicar, imagine quando os dois se tornam diferentes panos de um mesmo remendo? Talvez seja essa a resposta para uma explicação mais lógica sobre um sentimento maior, ou talvez seja somente algo mais simples, parte do existencialismo de todos.

Eu quero e eu preciso, levarmos ao pé da letra as ramificações que essas palavras tem, provavelmente iríamos falá-las mais vezes. Eu quero e eu preciso, só se quer algo ou alguém que é querido; só se precisa de algo ou alguém que é precioso.

Da próxima vez que você for dizer "eu quero você" ou "eu preciso de você", ou até quem sabe os dois, leia nas entrelinhas o que você mesmo quer dizer à pessoa, se ouça melhor e esqueça as duvidas.

Queira, precise, ame!



- Vinicius Neves

25 de novembro de 2008

MENINA DO BALAIO



Ela andava tranquilamente.

Estava ali na minha frente, talvez a uns cem passos de distância. Eu podia sentir o cheiro de seus cabelos.
Seu vestido era branco do mais puro algodão. Tinha cabelos castanhos e ondulados, pele branca e delicada, nenhum traço em especial. Era uma garota comum, simples, mas para mim ela exalava algo que só meu coração soube sentir.
Ela andava e sorria, sorria e andava.
Eu a amava e a via, a via e a amava.
Ela carregava um balaio no braço esquerdo, e ia colhendo flores no meio do caminho em direção a um grande carvalho.
O vento soprava de leve sobre seu corpo sensível, e ela dançava descalça com ele, emaranhando-se entre folhas e a claridade avermelhada de um final de tarde.
Estava um clima gostoso, o sol tinha sido gentil em ceder apenas o calor necessário. Até hoje acredito que ele a fitava da mesma forma que eu.
Quando ela chegou perto do carvalho, passou levemente seus dedos com carinho ao seu redor e sentou ao lado de suas raízes.
Pensativa, dobrou os joelhos sobre o peito e apoiou o braço direito ali, deixando o balaio de lado.
Apoiou o cotovelo esquerdo no outro joelho, e apoiou o queixo na palma da mão esquerda, olhando o mais longínquo e profundo possível para o horizonte.
Com um olhar distante abaixou o rosto entre as pernas e começou a soluçar em pleno pranto.
De onde eu estava, senti meu pé grudar firmemente no chão e o outro a querer seguir sua direção, em direção ao balaio, das flores, da sombra do carvalho, da menina do balaio.
Ela me viu com o canto dos olhos, enxugou as lágrimas e me deu o sorriso mais lindo que eu já vira em toda a minha vida.
Quando cheguei mais perto, ela me disse:
- As flores são para lembrar que a felicidade é como elas: são belas, são agradáveis. Podem morrer, mas sempre se pode plantar novamente.
Quando olhei longe no horizonte foi para lembrar que tenho um futuro inteiro pela frente.
O carvalho é o meu lugar de descanso, aqui eu posso contar tudo para ele, que ele nunca vai me julgar, não vai dar palpite algum, simplesmente vai estar ao meu lado me dando sombra. Às vezes é só disso que a gente precisa.

Curioso perguntei:
- E a dança?

Sorrindo, a garota respondeu:
- A dança não tem um significado específico, eu poderia ir correndo e chorando até o carvalho, mas preferi ir dançando e colhendo flores – que são como a felicidade –, a dança foi só para dar ênfase ao fato de que mesmo com os problemas, ainda posso fazer da vida uma eterna e graciosa arte.



- Vinicius Neves

24 de novembro de 2008

INFANTILIDADE



Existem certas coisas que são mesmo pra ficar.
Se me perguntassem à pouco tempo atrás se o passado iria conseguir me afetar de alguma forma, eu daria risada e diria que isso nunca iria acontecer, que eu vivo sempre o meu presente.
Mas felizmente as coisas não são sempre como queremos.
A vida, Deus, o acaso, tudo isso tem planos que geralmente são diferentes dos nossos, podem tirar alguém de nossas vidas, mas pode colocá-la denovo simplesmente pra ouvir você falar sobre sua vida, pra saber como você está.
Quando se pensa que está ficando cada vez mais sozinho, algo maior do que nós nos envia alguém que é/foi importante pra nos escutar e tentar entender toda nossa complexidade.
Quando se perde a esperança em certas coisas, essa pessoa aparece mostrando que nem tudo está perdido, que na verdade, faz você sentir que com ela ali com você, realmente nada irá se perder. Nem com o tempo. Nem com as diversidades. Nem com os desabafos - que muitas vezes a gente aconselha, mas gostaria de fazer diferente, gostaria que a realidade fosse diferente (a nosso favor, claro).
Depois que fiquei um pouco mais velho, não gosto de falar de lembranças, de sentimentalismo, acho tudo isso algo muito barato, algo muito adolescente, sonhador demais. Mas como eu poderia deixar de falar de algumas coisas sem citar os bons momentos que ficaram marcados? Como eu poderia negar o acelerar do coração quando sente que a conversa parece estar pendendo para um lado mais sério - que fale de nós dois, que fale de tudo que já passamos, o que já vivemos, o que já sentimos e da falta que um fez ou faz ao outro?
Me desculpem, mas eu terei de ser infantil, pelo menos hoje, para tentar expressar esse tipo de comoção. Mesmo que algumas coisas nos façam um bem incalculável, acabamos não tendo auto-estima o suficiente para achar que devemos criar esperanças, e que poderíamos ser algum escolhido em especial entre uma lista de pessoas mais próximas, talvez mais interessantes, ou qualquer coisa que nos faça ficar pra trás, qualquer coisa que nos faça chegar atrasado.
Dizem muito por aí que os verdadeiros homens sabem se expor, sabem dizer o que estão sentindo, e no entanto, passamos por situações que têm nos deixado confusos, como um adolescente-inicio-de-carreira.
Mas, ao mesmo tempo que temos a oportunidade de sermos pessimistas, deveríamos ser otimistas também, (eu sei, essa dualidade confunde às vezes). Não acredito que tudo isso venha só de nós, quando pensamos nesses lances do passado, conseguimos ver muito longe, muito longe mesmo, e quando isso volta a nos atingir, sabemos quando é algo a mais, quando o cenário muda, não só pelas conversas, pelas risadas e pelas lembranças que vem à tona quando falamos de "nós" - que quase sempre é inevitável tocar neste assunto.
Enfim, quando isso acontece, joguemos os dados para ver no que vai dar.
Só em alguns detalhes não devemos ser infantis: Não ter medo ou nem receio de nada, o que tiver que ser será, e independente do que aconteça devemos abraçar isso e carregar conosco. Acredito que as coisas que realmente pertencem à nossas vidas, vão permanecer em nossas vidas de qualquer jeito, o importante é arriscar, que se dane se uma tentativa possa ser frustrada, pode muito bem acontecer o contrário, encontrar algo que te faça muito bem, e quem sabe, pra sempre.



- Vinicius Neves

20 de novembro de 2008

AS CRÔNICAS DO GATO E O COELHO VI - METAMORFOSE



Uma trilha pequena, escura e densa era o que seguiam os olhos do Gato que ia à frente da Gata, corendo juntos. As árvores passavam em uma velocidade alucinante enquanto os galhos costavam as laterais de seus corpos.
- Arf, arf, arf, arf, arf, não desista, estamos quase lá! - Arfava o Gato.
- Não aguento mais! Minhas pernas estão muito fracas!
- Rápido! Estou começando a ver os muros!
Os dois chegavam perto de uma grande construção feita de sólidos blocos de rochas, com uma entrada bem em sua frente.
Ouve-se um barulho ôco, o Gato olha para sua companheira e a vê caída, totalmente cansada, quase desmaiada. Com um olhar espantado, ele dá meia volta rapidamente e pula por cima dela. Olha assustado para trás e com razoável força morde o lombar de sua amada, forçando depois seu corpo com a cabeça, para que ela continue e entre pela porta.
A gata sai em disparada e se joga pra dentro do muro, que era muito maior por dentro do que por fora, caíndo exausta do outro lado.
O gato olha mais uma vez assustado para trás e uma nuvem negra o acerta em cheio, fazendo com que seu pequeno corpo voe para dentro do muro e bata em algo que o fez cair ferido ao seus pés, ao mesmo tempo em que uma grande e forte porta de madeira se fecha, tapando a entrada do muro.
A Gata abre os olhos e procurando pelo seu amado ao seu redor, o vê há uns vinte passos de distância, ferido e desmaiado.
- Levante-se! Levante-se! Acorde pelo amor de Deus!
O Gato com um olhar distante olha para a Gata:
- Vo...você está bem!?
A Gata com lágrimas nos olhos responde:
- Não se preocupe meu amor, vamos conseguir sair dessa, estamos à salvo aqui dentro.
Os dois se encostaram e dormiram até o outro dia.
Quando acordaram, o casal de gatos não sabia onde estava; era como uma mansão feita de blocos de pedras que tinha no mínimo o quadruplo do tamanho do Gato. Os dois entraram pela pequena porta que dava acesso à vários corredores. Era tudo muito iluminado, como se houvesse luzes brancas que clareavam tudo ao redor de paredes muito ornamentadas, com vigas gregas que sustentavam o teto, muito acima de suas cabeças. Seguindo um dos corredores, chegaram à uma sala redonda, muito ampla, onde havia sete circulos no centro, um rodeando o anterior, e acima de suas cabeças, no telhado, havia uma porta circular de madeira que estava fechada. Nas paredes haviam seis portas.
Ouviram a porta bater.
Os dois olharam um para o outro sem entender o que estava acontecendo ali.
Uma voz suave, porém muito alta e penetrante quebrou o silêncio.
- Posso entrar?
Os dois permaneceram parados, com medo.
- Não farei mal algum à vocês.
- Como saberemos disso? - Falou o Gato apreensivo.
- Não saberão... Mas caso não tenham percebido, vocês não estão em vantagem com toda aquela quantidade de lobos lá fora. Se quizerem eu posso ajudar.
- Como não saberemos que você não é um deles!? - Disse a Gata apavorada.
- Por acaso tenho voz de lobo?
Os dois se manteram juntos, e o Gato respondeu:
- Pode entrar.
A porta escancarou-se fortemente.
Nada apareceu ou desceu durante sete segundos.
Sete finas espirais de fogo começaram a descer lentamente até tocar os sete circulos, e descendo por entre elas, vinha um pássaro muito grande, de cor misturada com dourado e vermelho. Era um ser que trazia consigo chamas intensas e um calor agradável que automaticamente revigorou os pequenos gatos. O pássaro pousou graciosamente de frente aos dois que o olhavam espantados. Ele balançou o corpo para se livrar das chamas que o seguiam.
A porta fechou-se fortemente.
- Então... Vocês são o famoso casal de gatos que lutaram contra dez daqueles lobos infernais.
O gato agora percebera que não era um pássaro comum, era uma fênix.
- Sim, somos nós.
- Que bom que soube utilizar bem o fogo que enviei para cuidar de vocês.


- Fogo?
- Sim. Sabe, não é qualquer tipo de fogo que afugenta dez lobos ferozes como se eles não fossem nada.
- E porque você nos ajudou? - Pergunta a Gata.
- Tudo ao seu tempo pequeninos, tudo ao seu tempo.
- Você precisa nos ajudar, estamos encurralados aqui!
- Calma meu pequeno amigo, primeiro, antes de mais nada preciso lhe mostrar três coisas.
A Fênix bicou o circulo do centro, este se soltou e desceu junto com os outros, fazendo uma espécie de escada.
- Desça.
- Porque?
- Não quer evoluir? Tenho algo para você lá embaixo, algo que precisa encarar para evoluir, algo que precisa encarar para poder sair daqui.
O gato desce as escadas. A cada degrau o porão que descera ficava mais e mais escuro.
Ouviu um barulho estranho ao fundo, viu dois olhos brancos se abrirem e o barulho mostrou-se ser uma respiração muito ofegante. Em seguida, os olhos avançaram rapidamente sobre ele, derrubando-o no chão. A luz do andar de cima mostrou o rosto a qual pertencia os olhos, era uma pantera negra que começou a gritar:



- Eu posso ajudar você! Juntos acabaremos com todos os lobos que estiverem lá fora! Ha ha ha! Você não precisa de mais nada além de mim! Nem de coelho, nem de canária, nem de gata, muito menos de fênix!!! Eu sei tudo sobre você, sou o fruto do seu ódio, do seu rancor, das suas mágoas! Sou a sujeira negra que fica no fundo do seu lago! Você já me sentiu antes e gostou! Seremos mais poderosos ainda juntos!
- Não! Me solte! Não quero sua ajuda!
- Destruirei seus inimigos com as forças de minhas presas, engolirei todos eles.
- Saia de perto de mim! Fênix! Socorro! Não consigo me soltar!
Uma chama envolveu a Pantera, que começou a recuar e grintando carborizou-se, transformando-se apenas em ossos queimados.
O gato subiu rapidamente e irritado exclamou:
- Você é louco!?
- Alguns dizem que sim.
- Você quase me matou lá embaixo, qual é o propósito disso!? Que monstro era aquele!?
- Aquilo... Era você...
O Gato e a Gata pararam subitamente de respirar assustados.
- Como assim, era ele!? - Pergunta a Gata.
- Era o Gato, apenas evoluído da maneira errada, era o que ele estava cultivando dentro de si mesmo sem perceber, foi o que fez com que tratasse seus amigos com desprezo e viesse a fazer sua jornada sozinho. Naquele momento era a Pantera tomando conta das atitudes dele, se ele não percebesse, aos poucos ele iria se tornando naquele monstro. A partir do momento que você o rejeitou, rejeitou a si mesmo, o seu "eu" escondido. Ele começou a perder controle sobre você à partir do momento que você conheceu o verdadeiro amor, estava só aguardando um momento de se soltar em algum último ato desesperado, mas eu te libertei dele.
- Essa então foi a primeira coisa que você tinha para me mostrar?
- Exatamente.
- E o que vem agora?
Uma das seis portas ao redor deles se abre, lá de dentro ouve-se passos.
Eram dois personagens nunca antes vistos, uma águia pousada sobre uma capivara.
A águia olha atentamente para os dois, virando a cabeça, depois olha atentamente para a Gata, como se a estivesse medindo.
- Ela é muito bonita amigo, fico feliz que a tenha encontrado finalmente. - Disse a águia como se estivesse falando com um antigo amigo, se dirigindo ao Gato.
- Amigo? Nunca te vi em minha vida.
- He he he, até hoje a vejo do meu lado e me assusto, esqueço quem ela realmente é, acostumado com os velhos tempos. - Disse a Capivara.
- Velhos tempos?
Levantando o sorriso o maximo que pôde, a Capivara responde:
- Não lembra de nós velho amigo? Já faz algum tempo que não pelejamos juntos, mas não acho que seja possível que tenha se esquecido de nós.
- Coelho? Canária?
A Águia olha para o Gato pensativa e diz:
- Não, agora somos Capivara e Águia. Eu sei, eu sei, estamos um "pouco" diferentes.
- O que aconteceu com vocês!?
A Fênix abaixando leventemente sua cabeça em direção ao Coelho responde:
- Eles evoluíram, aprenderam com a vida e com a sua perda, me deixaram ajudá-los a chegar neste ponto, hoje são novas criaturas.
- Agora posso voar muito mais alto, mais alto do que as próprias nuvens, vejo as coisas muito mais longe do que antes. - Disse a Águia.
- Eu sei, o nome não é muito atrativo - comentou a Capivara - Mas sou o maior roedor que existe, meus dentes são fortes e muito afiados, sou mais forte e ágil do que pareço, principalmente dentro d'agua.
O Gato e a Gata ainda um pouco perdidos com tanta informação olham para a Fênix, como se isso os ajudasse a entender a situação.
- Agora é a vez de vocês.
Os olhos da Fênix brilharam como um par de chamas. As mesmas sete labaredas saíram do corpo da Fênix e começaram a envolver suavemente o casal de gatos.
Por alguns minutos mudos, não se pôde ver nada além das chamas em círculos ao redor deles. Quando as chamas finalmente voltaram para a Fênix, dois novos seres haviam nascido.
Era um Leopardo das neves e uma Onça pintada.
- Agora entendo melhor todo o propósito. - Disse o Leopardo erguendo-se das chamas restantes.
- Ótimo - Exclamou a Fênix - À partir de agora vocês estão prontos para que eu mostre à vocês a terceira, última e mais importante coisa. O fim de tudo o que conhecemos se aproxima.

(continua)


- Vinicius Neves

12 de novembro de 2008

FÊNIX NEGRA



Estou aqui.
Ontem eu era cinzas, hoje renasço.
Morrer amanhã tanto faz, desde que eu continue com o que faço.
Renascido das chamas da dor
Ferido pelas águas do amor
Encontre-me e mate-me!
Isso! Outra vez!
Faças com que minha alma sinta vossa invalidez!
Apunhale-me se puderes
Posso cuspir sangue se quiseres
Mas não vire as costas para mim
Ah, isso tu não vais querer fazer
Pois eu ressurjo das cinzas, mato a ti, e como vosso coração até o amanhecer
Arranco teus olhos ainda presos em nervos ópticos
Para veres um demônio deglutir ferozmente vossas víceras
Caso encontres alguma fresta em tua alma
A encherei dos sentimentos mais impuros, pesados, tristes e sombrios.
Pisarei sob tua cabeça para ver a ti se afogando em vossa própria imundice, da qual detalhadamente, delicadamente e cuidadosamente multipliquei, apreciando cada fração de segundo com um imenso prazer compulsivo de te ver sofrer.
Espreito vossa alma pacientemente.
Pois quando menos esperar, invadirei tua mente.
Infectarei cada célula de teu corpo com a pior das depressões, com a pior das angústias, com o pior do pior, com o que há de pior em mim, e podes acreditar, há muito disso.
Não há nada mais que tu possas fazer.
Não há nada neste mundo que possa me deter.
Não me importo o quanto tu irás sofrer.
Teu pior sofrimento será o meu maior prazer.





- Vinicius Neves

9 de novembro de 2008

PEDRA QUE ROLA



"A minha vida é o Rock n' Roll", e mesmo estando sobre "November Rain", "Nothing Else Metters". Yeah baby, estou "Back in Black", e mesmo que eu seja um "Renegade" e esteja viajando em uma "Crystal Ship", sei que sempre serei o "Unforgiven". Apesar de tudo "Eu que não amo você" sei muito bem que estou me tornando uma "Metamorfose Ambulante" e que você "Can't Buy my Love". Deixei de lado "Meu Medo da Chuva" e sei que "Here Comes the Sun". Tenho consciencia que em "My Generation" somos muitos mais que um "Hero", basta termos apenas "Patience". Mas se você quer mesmo me domar e ser "My Girl", então não pise em meus "Blue Sued Shoes" e "Ligth my Fire". Tudo que digo é muito mais do que uma "Canção Galopada", por isso tenho que "Break on Through" para o outro lado, mesmo que eu acabe em um "Pet Sematary". Por mais que possa parecer "Don't Want Miss a Thing", e ainda sonho com minha vida de "Rockstar". Então, "Welcome to the Jungle" e "Come as You Are", sou pior que um "Hound Doug", vago sempre pela minha "Stray Cat Strut" e tenho mais gosto do que "Tutti Fruti". Exploda como "Great Balls of Fire" e viva a "Sociedade Alternativa"; pense o que quiser, mas "In the End" podemos estar simplesmente "Knock'n on Heaven's Door" ou ouvindo "Hells Bells".

- Vinicius Neves

21 de outubro de 2008

AS CRÔNICAS DO GATO E O COELHO - PRELÚDIO - FINAL DO AMANHÃ



A terra clama por seu sangue, por sua mágua, suas feridas e seus pecados, porém o céu intercede por sua alma.
Enquanto há fogo, ele consome o que há para se consumir; porém a noite se dissipa com o primeiro raio de sol.
Este é o tempo que o Tempo jamais esquecerá.
A guerra que as pedras e as montanhas temiam finalmente chegou.



- Vinicius Neves

6 de outubro de 2008

AS CRÔNICAS DO GATO E O COELHO V - UMA RAZÃO PARA VIVER




A NOITE CAÍA COMO UMA RELÂMPAGO


O gato andara pensando muito em toda sua vida, um flashback em câmera lenta o açoitava por dentro de uma forma tão envolvente que nem percebera que a noite tinha chegado e que estava sozinho no meio de uma clareira escura, e uma floresta terrivelmente tenebrosa. As árvores pareciam ser cinzas, e as folhas negras, a lua ao contrário de tudo o mais que se via, era alva e reluzente o bastante para iluminar a clareira de modo que podia-se ver muito bem seu perímetro.


Apesar da lua diminuir a escuridão que o cercava, não foi o bastante para evitar que seus pêlos arrepiassem e começasse a sentir medo.


- Que lugar frio e estranho é esse a qual vim parar. - Comentou o gato de si para si.
O mais sensato era aguardar a noite passar e recomeçar sua solitária jornada ao amanhecer, assim que as primeiras gotas de orvalho escorrerem com a luz do sol.


O gato tentou lançar para longe os pensamentos ruins:


- Que besteira, porque haveria eu de ter medo de uma noite linda como esta?
Quando o gato preparava-se para deitar sonolento, ouviu um barulho estranho vindo de algum lugar perto, o qual não pôde distinguir.


- Que barulho foi esse!? - Comentou o gato perplexo.


O barulho chegou a se intensificar e um forte vento o empurrou por de trás dos ombros.


- Quem está aí!? - Gritou o gato, começando a juntar a irritação com o medo.


- Desculpe senhor... - Dois olhinhos se refletiram na escuridão, acompanhados de uma voz tão doce quanto a brisa leve de verão - É que eu senti algo me seguindo - os olhos iam de encontro ao gato e de pouco em pouco a luz da lua revelava um ser que fez com que os olhos do gato abrissem como nunca, era uma linda e delicada gata. - Estou cansada, com fome, com medo, e com frio; já não encontro razão para viver, caminho sem êra nem bêra, sou uma desiludida do mundo, uma rejeitada da felicidade; não conheço o senhor, se for me fazer mal, não tenho mais o que perder; se for fazer bem, faça por opção, não por imposição.


O gato ainda calado, mal conseguia expressar uma palavra sequer, e com grande esforço conseguiu proferir: - Po...po...por favor, de m-maneira alguma, não desejo lhe fazer mal algum, também sou um andarilho esquecido pelo mundo.
O gato conseguiu passar um segurança muito forte para aquela bela felina depois desta frase. Ela o olhou de perto, apesar de um pouco suja, era linda, de um cinza claro, quase chegando ao branco, os olhos azuis e profundos como o mar fizeram com que o gato se afogasse dentro deles.


- Se importa se eu deitar ao seu lado?


- Co-como?


- Está frio, juntos nos aqueceremos.


- Claro... Você está certa.


O gato lamentava não poder haver algo a mais que poderia aquecê-los. De repente algo pequenino brilhou em sua frente, e uma faísca em meio a galhos secos fez com que uma fogueira se acendesse.


O gato sentiu como se por um exatamente um milésimo de segundo algo voara por cima deles clareando tudo ao seu redor. Porém somente ele percebeu, e a gata que se distraía com a luz do luar pensou que a fogueira tinha sido obra de seu companheiro.


O gato não comentou o incidente.


A gata se encaixou perfeitamente ao corpo do gato, que suspirando disse:


- Você sempre andou sozinho?


- Nem sempre. Tive amigos, mas precisei deixá-los.


- Todos necessitamos traçar nossos próprios caminhos de vez em quando.


- Sim...


- Eu também tive uma família, mas o mundo os arrancou de mim, sou órfã da vida e filha do mundo que me rejeita.


As palavras da gata entravam tão mansamente no coração do gato, que este sentia como se a conhecesse a muito tempo; conversaram por cerca de duas horas, e a cada minuto o gato tinha mais e mais certeza que é como se a vida dela o completasse desde séculos atrás, séculos e séculos atrás, como se todas as vidas que o gato poderia ter fossem feitas para completar com as vidas dela.


- Você de longe é a pessoa mais maravilhosa que já atravessou o meu caminho. - Disse a gata com voz sonolenta, sentindo uma felicidade incomum.


O gato se envergonhou.


- Não sei se temos mesmo mais de uma vida, nem se há um futuro grandioso na morte, mas creio que...


O gato se espantou em ver que sua companheira tinha adormecido, não conseguira agüentar a exaustão.


O gato ficou a simplesmente olhá-la com ternura por mais ou menos uma meia hora.


Quando estava quase caindo no sono, viu um vulto passar por detrás dele.


O vulto parecia se multiplicar, e a cada segundo parecia que os estava rodeando cada vez mais. Um vento estranho e forte começou a soprar de todos os lados.


Um assombro tomou conta do coração do gato, que só pôde roer os dentes com os olhos cansados e arregalados a espreitar o seu redor.


Um dos vultos pousou em sua frente, porém todos os outros escondiam-se atrás das arvores e vez ou outra voavam acima deles.


A gata não acordou.


O vulto que estava à frente deles de pouco em pouco ganhou um pouco de forma, era uma nuvem negra que parecia mais um lobo com longos dentes, e olhos cor-de-sangue.




O gato assustado olhou para sua amada, e ela ainda não acordara depois de todo aquele estrondo.
- Ela não vai acordar até o amanhecer, está exausta, não dorme a dias e finalmente encontrou um repouso, sendo este em seus braços. Claro que também demos uma "ajudinha" para que não acorde. - Disse o lobo com uma voz rouca e repugnante.


- Quem é você, e o que você quer? - Disse o gato apertando os dentes e os olhos.


- Sou o que chamam de "Devorador", "Sanguessuga", "Carniceiro", me alimento das almas atormentadas da noite; estes ao meu redor são minha legião, dispostos a destruir qualquer um ao meu menor sinal. Fique tranqüilo que não temos nada com você (por enquanto), viemos perseguindo esta que repousa em seus braços


- Porque?


- Não temos motivo para isso, somente odiamos vocês que pisam sob a terra, pois pisam em nosso teto, como se fossemos vermes. Nossa sina é fundar a destruição. - Continuou o lobo se esquivando vorazmente de uma fagulha da fogueira e lançando-lhe um olhar de desprezo.


- Não deixarei que vocês a levem - Disse o gato enraivecendo, contorcendo os músculos e cerrando os olhos.


- Queimem ele! - Gritou uma voz rouca por detrás das árvores.


- Vamos escalpelá-lo! - Gritou outra voz mais fina.


Com um sorriso sarcástico, o lobo disse:


- Calma senhores, não vamos nos exaltar, tenho plena certeza que nosso pequeno amigo ainda não se deu conta de com quem está lidando; somos os senhores de Ilusão! E de todas as cidades dos desgraçados! Já disse, não temos nada contigo, tua hora virá, mas esta não será agora.


- Nem a minha, nem a dela. - Insistiu o gato apertando cada vez mais forte os dentes, protegendo a frágil gatinha.


- Você não tem escolha, somos muitos.


- Posso não ter escolha de vencer, mas tenho a de lutar. Mesmo que tirem o meu couro, cortem minha língua e arranquem minhas garras. - Disse o gato deixando as garras à mostra.


Todos os vultos pararam. O lobo fitava atentamente o gato, depois desatou a rir, os vultos deram risada logo em seguida.


- Como pensa em nos atacar?


- Vagueei por muito tempo nesta terra à procura de algo que me complete, algum sentido profundo nesta vida infundada; tive que abandonar grandes amigos para compreender a mim mesmo, encontrar meu próprio caminho e encontrar algo que fizesse minha vida valer a pena.


- E ela vale sua vida? - Disse o lobo enfurecendo-se.


- Se não vale minha vida, valerá a minha morte! - Disse o gato saltando de encontro com o lobo. Os dois seguiam um de encontro ao outro como numa batalha épica. O gato bateu com fúria em galho que ardia na fogueira, fazendo-o voar contra os olhos do lobo, que em um acesso de dor caiu para trás com os olhos fechados e agonizando.
- Meus olhos! Meus olhos! Isso queima mais que o inferno!
Todos os outros vultos sobressaltaram e ficaram a olhar pasmados de cima das árvores para aquela cena.
- Fogo não nos atinge! Como pode ser!?
- Idiotas! - Disse o lobo reerguendo-se com dificuldade. - Isso não é um fogo qualquer!
O gato notando o medo deles, pegou o mesmo galho como tocha.
- Se algum dos miseráveis ousar se aproximar, farei um holocausto de lobos! - Disse o gato queimando sua pata na brasa viva. - Já disse que eu estou cuidando dela, seres da noite! Estou avisando!
- Peguem ele.
Todos os vultos saltaram para cima do gato.
Este levantou a tocha o mais alto que pôde, esta brilhou como o sol, transformando por um momento a noite em dia.
Todos eles desapareceram aos gritos.
O gato amarrou um pedaço de pano velho na pata, deitou-se e encostou o corpo da gata junto ao seu, o dia já começara a amanhecer, e ele quase caíra de sono guardando o sono de seu amor.
Ficou um tempo olhando para ela com um carinho que nunca pensara em sentir na vida. Ele acariciava seu rosto como se ela fosse feita de pétalas de rosas, ou algo da mesma fragilidade.
Ela acordou e olhou para ele com ternura.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Dormi muito?
- Não mais que o necessário.
- Desculpe, deixei você conversando sozinho, não aguentei o sono; você disse que estava procurando por uma razão para viver...
Olhando docemente a gata com os olhos cheios de lágrimas o gato respondeu:
- Não estou mais...



- Vinicius Neves

24 de setembro de 2008

VAZIO



Este dia foi segunda feira.
O dia acordou e dormiu silencioso.
Até mesmo o metrô estava estranhamente quieto.
Será que meus ouvidos estão me enganando? Será que estou ficando surdo? Não, duas garotas passaram ao meu lado conversando e rindo. Mas mesmo assim está tudo muito quieto! E os trens? Pararam? Também não, um acabou de chegar. Ele faz um barulho estranho, como um monstro engasgado.
Tudo ao meu redor parece tão vazio... Porque?
Tanto tempo que não sentia algo assim.
Ouço as muletas de um senhor tocarem o chão, ouço-as perfeitamente; ouço também os passos de uma senhora estalarem um a um.
Sempre vemos o nosso mundo, o nosso redor da maneira como estamos por dentro; vemos podridão quando há podridão em nós, vemos beleza quando há beleza em nós, sentimos vazio quando...
Enfim, estou me sentindo surdo.



- Vinicius Neves

19 de agosto de 2008

AS CRÔNICAS DO GATO E O COELHO IV - ADEUS DE UM AMIGO




- Tenho algo importante para falar a vocês. - disse o gato com a face séria, mas levemente triste.
- De que se trata? - Perguntou o coelho intrigado.
- Trata-se de minha crescente infelicidade com essa jornada.
- Mas, nossa jornada tem sido muito proveitosa e além do mais...

Cortando o amigo, o gato continua:

- Não me refiro à nossa jornada, e sim à minha própria jornada. Sinto que não tenho aprendido como deveria. Me falta algo, e sei que só poderei encontrar isso sozinho.


Suas palavras fizeram as árvores, os insetos, e até mesmo a brisa se calarem. Fora o minuto mais longo que todos eles ja sentiram.


A canária que estava nas costas do coelho pula de seu firmamento, de frente pro gato e com lágrimas nos olhos pergunta:
- Foi algo que fizemos?
- De forma alguma, me orgulha que tenham aprendido tanto nestes tempos, mas eu não me sinto realizado, ainda me falta algo para aprender.
- Está sendo egoísta! - gritou o coelho sem poder conter-se.

Com um olhar de descaso por cima dos ombros o gato responde:
- Às vezes é necessário.
- És uma criatura detestável! Como podes falar tão friamente com seus amigos de jornada? Depois de tudo que passamos!
- Lamento. É necessário.

O coelho ergue-se furiosamente contra o gato e desfere-lhe um tapa na face.

O gato vira o rosto com o golpe, e vira somente os olhos ao amigo:
- Já terminou?

O silêncio era uma mão grande e forte que os estava estrangulando, cortando totalmente a passagem de ar em seus pulmões.


A canária soluçando em pleno pranto fala:
- Vocês dois, parem!
As palavras não conseguem cortar o clima pesado entre o olhar raivoso do coelho e o olhar frio do gato.
- Vocês dois, parem! - A canária repete.
Os olhares dos dois davam a impressão que todo aquele cenário arborizado era cinzento, nebuloso e mudo.
- Vocês dois, parem!!! - A canária grita com tanta força que faz com que suas próprias penas arrepiem.


O coelho volta a si e senta-se como de costume. Ele olha assustado para o amigo que não lhe desviara o olhar calculista por nenhuma fração de segundo, como se realmente nada daquilo que tinham passado antes realmente importasse.


- Desejo-lhes sorte. - O gato diz, e começa a andar olhando para frente e seguindo o seu caminho.


Agora também chorando o coelho grita para o amigo que começa a se afastar:


- Não pode estar fazendo isso conosco! Não pode!!!
O gato fala ao longe, quase que inaldívelmente:
- Alguns males vem para o nosso bem. Nenhuma coisa boa acontece sem efeitos ruins.
E falando baixo para si mesmo o gato continua:
- Às vezes, elas só acontecem em tempos diferentes...

E seguindo seu caminho, percebeu com o canto dos olhos os outros dois amigos virarem as costas e seguirem o seu próprio caminho.



- Vinicius Neves

9 de agosto de 2008

ZUMBIS E MARIONETES DA FUTILIDADE



Sempre esperamos por uma mensagem divina que venha a nós como resposta, algo que seja inquestionavelmente um sinal divino. Pra que? Para fundarmos nossas ações, nossos pensamentos, nossas vontades e tudo aquilo que nos interessa e que temos vontade de fazer.
Óbvio, isso não acontece (ao menos não com frequência).
Porque na verdade, quem espera mesmo um sinal é o próprio Deus; espera um sinal de ação nossa. Ele não espera que nós sejamos impulsionados pelo sobrenatural para ter que fazer alguma coisa, Ele quer ver até onde a gente pode, até onde temos forças pra lutar, até onde podemos nos mostrar capazes e dignos da ação Dele.
Muito fácil falar "Deus, minha vida está uma merda, concerta ela por favor.", se nós fossemos Deus, aceitariamos um pedido desses? Às vezes nem temos problemas tão grandes assim, mas somos tão cegos e afundados no nosso mundinho que uma goteira de problema é uma enchente em nossas vidas, e somos acomodados a sempre ter alguem pra arrumar as coisas para nós; amigos fiéis, pais, mães, irmãos, etc; e quando aparece algo que a gente não quer expor para eles nós apelamos para Deus! Imaginem nós mesmos como pessoas que podem ajudar as pessoas, mas que ninguem nunca nem lembra de nós, só lembram quando precisam de ajuda e não tem mais a quem recorrer. É degradante, é angustiante, é EGOÍSTA!
Todos os dias vemos atrocidades nos jornais, na internet, na boca do povo, e falamos "meu Deus, que horrível!", e fica por isso mesmo. Claro, dessa forma vamos mostrar que nos importamos, quando na verdade não estamos nem aí. Prefiro mil vezes que alguém fale "E daí?" com sinceridade do que fingir que se importa.
Se hoje há tantos problemas, tantas dificuldades, simplesmente vemos como culpados os outros. Somos sempre senhores da verdade e que se todos entendessem o que pensamos, o mundo seria bem melhor. Claro. Somos mesmo egoístas a esse ponto. Afinal de contas, deveríamos estar sentados ao lado de Deus para aconselha-lo a governar o universo.
Nos fazer vivos e preocupados com palavras vazias nos faz sermos zumbis ou marionetes de nossas futilidades.
Aí depois de um tempo morremos, e a preço de quê!? A sermos mais um peso morto que só fez número no mundo e entrou para as estatísticas dos acidentes, dos latrocínios e das doenças?
Que vivamos pelo mundo inteiro, não só pelo ser único e egoísta que somos! Deixar nossa marca aqui é deixarmos uma marca para as gerações futuras. Morreremos na carne, mas viveremos nos espíritos futuros de quem acreditar em nossos pensamentos e ações!
Enquanto eu viver serei jovem, depois disso já não é mais comigo. Sou imortal até que me provem o contrário.





- Vinicius Neves

30 de julho de 2008

O ESPAÇO



Passando além das estrelas, além do que os olhos podem ver.
Sentado numa nuvem negra de amargura.
Esperando pelo seu triste destino...
Os olhos vazios, a espera da morte.
Uma gota cai deles.
Na imensa escuridão do espaço: Sem destino, sem vida, sem razão, sem nem mesmo ar para respirar.
Os olhos vermelhos de sangue começam a lacrimejar.
É um choro de raiva, está descontente.
Tristeza, âmago, injúria, degredo.
Sente uma lâmina cortar seu pescoço, e fazer seu sangue jorrar como uma chuva de verão sombria no meio da noite eterna.
Cada gota brilhando num sinistro tom rubro em meio às cores enegrecidas daquele cenário macabro.
Sempre, sempre, sempre...
Je t’aime, moun cherriè!


- Vinicius Neves

14 de julho de 2008

CONFISSÕES



Encontre o sentimento mais vil
Do mais iluminado ao mais sombrio
Transforme aspiração e inspiração
Em pulsações de comoção
Descreva sua alma numa folha de papel
É a poesia se formando no mais puro véu
Transborde sensações
Observe as ilusões

O mundo é feito delas.

Fique bêbado de prazer
Veja o amanhecer
Embriague-se de trevas
Veja apodrecer

Ignore o resto do mundo e faça uma confissão
Anote o que aprender e faça uma oração.

O sangue, a brasa, o rubro e o ardil
Daqueles que jamais sentiu

Suba e veja a beleza da Terra
Que atire a primeira pedra
Quem nunca foi poeta.


- Vinicius Neves

30 de junho de 2008

OBSERVAR



Não acordo no mesmo horário que vocês acordam.
Também não durmo quando acham que devo dormir.
Não sonho como vocês sonham.
Não saboreio as coisas como vocês saboreiam.
E indiscutivelmente não enxergo e sinto as coisas como vocês enxergam e sentem.
Pra mim tudo é tão complexo e simples ao mesmo tempo...
Tento observar tudo para aprender com o todo.
Não é tão fácil explicar como é minha caminhada, mas tem sido algo grandioso. Encontro Deus em todas as coisas.
Minha vida mudou depois que comecei a observar.
Tenho certeza que enquanto eu seguir este caminho, nada poderá me atingir.
Observar e sentir...
Agora entendo melhor a vida, a morte, as pessoas, a natureza e todo o resto.
É tudo um emaranhado de novas possibilidades.
É um segredo que Deus contou para todos, mas não nos propusemos a ouvir.



- Vinicius Neves

22 de junho de 2008

SER MAESTRO


O que acontece quando a música acaba? O que há entre a música agitada da curtição e aquela que nos faz repousar num silêncio que faz refletir sobre nossas vidas ou sobre alguém? o que acontece quando a música acaba? O que acontece no meio dessa música da sua vida? O que há entre seus momentos bons que todo mundo vê, e os momentos ruins que só o seu travesseiro sente? O que é que há neste local que se faz separar? O que tem escondido? O que há no segundo entre uma e outra? É tão vazio quanto o seu silêncio? Se você realmente puder responder isso; será mais um músico de notas fantasmas sendo um maestro da auto-compreensão na melodia da vida.

- Vinicius Neves

19 de junho de 2008

NOSSA VIDA E NOSSA VISÃO



A vida nunca foi justa; ela se torna o resultado do que você faz com as situações que ela lhe entrega; não se esqueça que tudo, sendo bom ou ruim é experiência, e é um crescimento para você.
Sobre as pessoas, acredito que o materialismo e o interesse chegaram à níveis extremos; todos preocupados com as aparências exteriores em vez de tentar enxergar além do alcance. Se importam com o que você parece ser, não com o que você realmente é. Quem é certo, honesto e de boas intenções não se dá bem.
Todos só sabem colocar horrores na aparência das pessoas; me diga, se a beleza realmente está nos olhos de quem vê, o que serão dos seus olhos se você só sabe ver os defeitos?




- Vinicius Neves

10 de junho de 2008

O ESCURO É FRIO



Tanto o escuro do mar, como o escuro do universo.
Nas profundezas do oceano me vi cercado por águas escuras que me congelavam. Nadei para encontrar a luz e só trevas encontrei. Afundei-me no profundo oceano e comprimi meu coração em sua triste pressão.
Voei por entre as nuvens, atravessando todos os céus. Quando menos percebi, às trevas retornei. Havia luzes ao longe, mas não consegui alcançar.
Morri sufocado na esperança de tentar.
O frio me consumiu e me tornei o que temia, dentro de sua imensidão e na liberdade de ironia.
O medo tentou me congelar mais que a escuridão, o universo e o oceano são parecidos, mas é a mesma solidão.
Nadei abaixo do Triângulo das Bermudas, não há nada lá.
Vasculhei as redondezas de Atlântida, não há nada lá.
Fui até Marte para pensar, não há nada lá.
Pisei na Lua para dar um pequeno passo, não há nada lá. Nem bandeira.
Se vir minha alma por aí, mande lembranças.
Se vir minha esperança, diga que encontrei o amor, e que ele é mesmo lindo, me transforma a cada dia e me ensina a ser feliz a cada amanhecer, me ensina a viver.
Posso ter morrido entre as trevas e escuridão, mas agora renasço com o Sol até mesmo à meia noite.

- Vinicius Neves

28 de maio de 2008

MINHA MALDIÇÃO, MINHA VIDA



É esta a distância que leva minha maldição
Seguindo a estrada da doce solidão
Tem um sorriso que é um doce
Ela não iria me amar se eu não fosse
Me abraça, me acaricia
Olha em meus olhos, ouve minha poesia
O coração impede
O que a gente pede
Sempre me perguntei a quem vou amar
Em que dia, em que hora e qual o lugar
Será que essa é minha maldição?
Tem que ver, ter que ouvir a voz do coração?
Me lembro vagamente quando te vi
Dei um sorriso, boa noite, caminhei e sumi
De que adianta seguir em frente e o coração olhar pra trás?
Se a vida não sou eu, mas sim, Deus que faz.






- Vinicius Neves

7 de maio de 2008

AS CRÔNICAS DO GATO E O COELHO III - ILUSÃO




ÚLTIMA PARADA:

- CIDADE DE ILUSÃO. - O maquinista disse através das caixas de som.



O gato e o coelho desceram com suas trouxas, soltaram seus fardos e admiraram a paisagem; era uma pequena cidade de interior com uma estação de trem rusticamente ornamentada em madeira, o sol era agradável e a brisa macia como deveria de ser. Era rodeada de longos pinheiros. As árvores cediam uma sombra tranqüila e fresca.
Tudo ali era agradável a não ser a inquietante sensação de não haver ninguém por perto à quilômetros e pelo silêncio que os fez corroer por dentro.
- Quem está aí? - Uma voz aguda e baixa perguntou.
Os dois amigos se entreolharam atônitos com aquela voz sem remetente.
- Dois amigos, eu sou o coelho e esse é meu amigo gato. - O coelho disse um tanto que hesitante. - E você? Quem é?
- Ah! Pensei que eram meus amigos que tinham chegado.
Observando melhor, o gato viu ao lado de uma das janelas velhas e empoeiradas da estação um velho e precário poleiro, que parecia ter sido feito às pressas. Um dos lados estava despencado na base de madeira suja. Os pregos tortos e enferrujados saltavam para fora em todos os lugares. e as farpas eram claramente vistas. Foi quando ele notou que aquela voz fina vinha de uma pequena canária que estava em pé na parte mais alta do poleiro.
O coelho notou em seguida logo após o cutucão do gato, apontando para a carinha triste do pequeno pássaro.
- Seus amigos? - Perguntou o coelho.
Sim. Estou esperando eles à um bom tempo.
Chegando mais próximo o gato perguntou:
- O que aconteceu com eles?
A canária que até então só tinha olhado fixamente para frente voltou-se para o gato e disse:
- Nossa! Seus passos são suaves, mal pude ouvi-lo chegar perto de mim!
O gato olhou para os olhos da canária compadecidamente; eles tinham as retinas acinzentadas, quase brancas.
- Mas sim, respondendo a sua pergunta; meus amigos me trouxeram até esta cidade prometendo-me voltar logo. Se bem me lembro chegamos da mesma forma que vocês.
- Você se refere ao trem? – Perguntou o coelho.
- Sim, esta é a estação final disso. Isso que nos trouxe, isso que trouxe vocês; desde então tenho estado aqui dia e noite esperando-os chegar.
- Isso faz quanto tempo?
- Eu nem me lembro mais... Mais tempo do que eu gostaria...
- É de se estranhar. Um trem não deveria ter como ponto final algum lugar maior e mais movimentado?
- Isso não passa de Ilusão.
- E desde quando você não enxerga? Ou já nasceu assim? - O gato pergunta.
- Não... Não nasci assim... Sei apenas que faz quase tanto tempo quanto tempo que estou aqui.
O coelho pergunta:
- E como conseguiu sobreviver este tempo todo aqui sem ninguém para te ajudar neste estado?
- Quando se está em Ilusão, nada mais importa a não ser o objetivo que temos centrado.
- Isso é triste. – Disse o coelho.
- Você ainda acredita que eles voltarão?
- Sinceramente não. Acreditei por muito tempo, muito tempo mesmo. Só permaneci aqui por falta de escolha.
- Sempre temos escolhas. – O coelho disse.
O gato olhou espantado para o coelho, esses tipos de frases geralmente eram ditas por ele, naquele momento entendera que seu amigo havia evoluído. Mas.. e ele? No que tinha mudado? No que tinha evoluído?
- É verdade. – Concordou o gato. – Você pode vir conosco, seria um prazer.
- Vocês têm certeza disso? Não vou atrapalhar?
- De maneira alguma, novos amigos são sempre bem-vindos, cada um contando a sua história faz com que todo o resto aprenda. Quando cada um divide sua experiência de vida com os outros, cada um aprende mais sobre a infinidade que é viver.
- Só não sei se ainda consigo voar, fiquei muito tempo parada.
- você pode viajar em minhas costas.
- Que ótimo!
Sendo assim, com a ajuda do gato, a canária subiu em suas costas.
Os três viajantes começaram a pegar uma trilha que levava para fora da cidade.
- Está vendo uma grande rocha do nosso lado direito? – Perguntou a canária.
- Sim. Estamos ao lado dela.
- Ótimo! Passando por esta rocha já não estaremos mais em ilusão.
Os passos suaves do gato fizeram o coração da canária bater mais forte.
Quando passaram pela rocha, a tarde já caía e o sol escondia-se atrás de uma uniforme cadeia de serras, aonde o caminho que levavam parecia encontrar-se com a paisagem.
Deixando lágrimas escorrerem pelos seus pequenos olhos, a canária suspirou fundo e dentro de sua alma a alegria e o calor de um novo dia que logo iria nascer lhe trouxe novas esperanças.
- Eu tinha esquecido como o pôr-do-sol era lindo. – Disse a canária enquanto as sombras de seus corpos desapareciam na luz agradável e ofuscante do sol.

- Vinicius Neves

1 de maio de 2008

DIA DE SOL


Quando penso em ti, sei que é um bom sentimento.
Nosso sentimento é como um rio que desce pelos nossos olhos e lava nossos corações de todas as impurezas deste mundo.
Com você, todo dia é dia de sol.
Imaginar nossa vida juntos, uma história de amor tão grande que cada palavra seria uma gota que encheria o nosso oceano de amor e carinho.
Essa felicidade que sinto por ti; é tão linda, como eu te amo!
Que emoção sinto quando estou contigo, meu coração flutua para um céu sem limites e faz-me amar-te eternamente.






- Vinicius Neves

30 de abril de 2008

O PESO DO MEU SANGUE



Além do meu gênio, do meu jeito de ser,
Além da morte e da vida, do morrer e do viver,
Além de meu sangue, minha alma, minhas dores, minhas mágoas,
Esconde-se uma pessoa indecisa.
Que vive cada dia, como uma cena repetida,
Um simples pedaço de papel,
Que voa sem destino pelos ares do céu,
Um rio que não sabe encontrar
Uma estrada para chegar ao mar,
Um pequeno beija-flor,
Que beija muitas flores, mas às vezes, sem amor.
Quem sou? Ainda não sei.
Mas um dia eu descobrirei.
Qual o significado de minha existência,
Sem choro, sem receio, sem medo da penitência.






- Vinicius Neves

EL LOBO MARIACHI


Quando cheguei nesta terra desconhecida com uma palheta na boca e um violão nas costas, mal sabia o que me esperava. Carregava comigo minha mochila cheia de sonhos e coletava pesadelos pelo caminho. 

Minha viajem sem rumo tinha chegado ao fim...

Até hoje me perguntam quem sou. Não sei responder ao certo. Sou o mesmo lobo solitário que chegou anos atrás ferido, sem memória e sem passado.
O que passou não deveria ser mistério, tudo faz parte de nosso crescimento e destino. O meu foi de ser um cavaleiro errante.

O passado é como um corpo sem vida, se não ficar enterrado irá cheirar mal e definhar ao seu lado. O que eu passei em minha viagem não melindra minhas atitudes, só faço mal a mim mesmo.

Enquanto isso, neste belo dia de sol, verde e vento fresco, debaixo de uma árvore me repouso tocando meu violão. Minha mochila pesa, afinal de contas, pesadelos são devoradores de sonhos...


- Vinicius Neves

26 de abril de 2008

A MISÉRIA ANDA DE TREM


Em um sábado, eu estava voltando de mais um dia fatídico da faculdade; e dentro do trem nada mais, nada menos que quatro vendedores ambulantes vendendo seus respectivos produtos; uma vendia escova de dentes, outro bala, outro tesoura e outro cerveja, coca e água.
Fiquei pensando; proibiram essa gente de fazer a venda nos trens, e ainda dizem que não devemos comprar para não incentivar, mas meu rapazzz, esse povo tá trabalhando! Provavelmente trabalham todos os dias da semana, ficam andando de um lado pro outro com pouco lucro, não estão roubando ninguem, só estão tentando manter a própria vida e da família de algum jeito!
Num país onde o desemprego alcança níveis absurdos, não há muitas alternativas! E ainda querem que esse povo pare de trabalhar!? Pra eles tá ótimo mesmo, deputados e afins, ganham o seu dinheiro covarde nas nossas costas!
Não sei quantos brasileiros sabem disso mas nós temos OS DEPUTADOS MAIS CAROS DO MUNDO, que incrívelmente não fazem nada!!! NADA!!! Não me recordo do salário e das regalias deles, mas quando encontrar eu posto aqui; mas sei que nossos deputados são mais caros que os dos países desenvolvidos! É de dar risada e de dar pena de nós mesmo também!
Pra se entupir de dinheiro e caviar, movem montanhas; mas para criar empregos, melhorar a saúde, melhorar as escolas, ninguem não tá nem aí! É de matar essas atitudes, ao invés disso preferem meter todo mundo na cadeia e proibir de vender os produros - que tá certo, na maioria é pirata, mas se as coisas originais não tivessem tantos impostos a ponto de terem o valor aumento várias vezes, não teria necessidade de produtos piratas.

Proibir de trabalhar? Me poupe amigão, vocês que deviam fazer o trabalho de vocês de verdade.





- Vinícius Neves