11 de junho de 2012

O DOM DE DOM ALMIRO


Hoje parei para pensar a respeito de como somos realmente esquecíveis.
Não, eu não escrevi errado. Somos realmente esquecíveis, por mais que durante algum tempo possamos nos tornar inesquecíveis, em algum momento próximo da história nosso nome desaparecerá.
O que me fez pensar assim? Lembrei do meu avô, Seu Almiro.
Meu relacionamento com família sempre foi bem limitado, mas eu gostava dele. Era um senhor que tinha sérios problemas com controle de raiva, isso foi passando de pai pra filho até chegar em mim; claro que tive que parar e reparar no que estava me tornando e comecei a tomar medidas para ser diferente. Acho que consegui até certo ponto. Na maior parte do tempo sou bem tranquilo.

Mas o que fez com que eu lembrasse dele hoje é o fato de apesar dos defeitos, Dom Almiro tinha um dom único: o de fazer coisas simples se tornarem muito divertidas.
Ele simplesmente amava os netos; e comigo, meus irmãos e meus primos ele nunca foi esse cara explosivo e chato. Muito pelo contrário, nos tratava como criança - é engraçado falar assim, mas hoje em dia vejo que isso era muito importante, não vemos muito disso com as crianças na atualidade; elas são tratadas como adultos - o que na minha opinião é algo terrível e de crueldade imensa.

Meu avô dava apelidos carinhosos para os netos, apelidos sem sentido algum, mas que a gente ria quando ouvia: Tico-Tico, Tutu, etc.
Outra coisa que nos divertia bastante era quando ele cutucava nossa barriga e falava de uma forma muito engraçada "Tchóóóim!" ou então "Pááábife!". Tinha algum sentido? Não, não tinha! Mas mesmo assim ele conseguia tirar altas risadas de todos nós!
Lembro que ele simplesmente adorava jogar dominó e foi com ele que aprendi a jogar. Passávamos tardes inteiras só jogando. Lembro que das últimas vezes ganhei quase todas as partidas e ele não entendia como havia perdido.

Era tudo tão simples, mas hoje reverto essas simplicidade para algo mais complexo:
Do que nós precisamos de verdade? Hoje em dia procuramos sempre entregar aos outros coisas caras e trabalhosas e esquecemos de entregar coisas tão simples e baratas, como por exemplo algo que falta bastante nas famílias: atenção.
Meu vô costumava dar dez reais para cada um dos netos e pedia para irmos "tomar um sorvete" com aquele dinheiro. Era o jeito dele de falar "toma aqui, vai gastar com o que você quiser, contanto que se divirta!". Na época dez reais eram o bastante para comer um lanche, tomar uma coca e gastar muitas fichas de fliperama.

Aonde estamos depositando os nossos "dez reais de sorvete"?
Aonde estamos usando os nossos "Tchóins e Pábifes"?
A quem estamos apelidando carinhosamente?
Para quem estamos ensinando nossas jogadas de dominó?

Meus filhos não saberão realmente quem foi Dom Almiro. Ele se tornará uma lembrança esquecida dentro de poucos anos, assim como eu também serei um dia.
Mas o dom de Dom Almiro, ah, isso sim eu quero para os dias futuros. Um dom desses não precisa ser associado com uma pessoa, precisa ser assimilado e repassado para garantir mais infâncias simples e sorridentes.


- Vinicius Neves

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