18 de março de 2015

OLHEIRAS AMARGAS


Amanhã já faz um mês

Um mês que não sei mais como conversar contigo sem depender da famigerada tecnologia que você tanto se empenhava em aprender; mas que sempre pedia ajuda por se esquecer como funcionava.

Um mês sem ouvir tua voz no telefone; dizer que te amo mais que tudo e que daria o mundo pra te ver bem, te ver feliz, e ouvir seu sorriso do outro lado da linha, sabendo que você passou o dia inteiro esperando ouvir isso.

Um mês desde a última vez que me disse que mesmo que já tivéssemos nos visto trinta dias antes, você já estava com saudade e que não via a hora de estar comigo novamente.

Um mês desde a última vez que te consolei; fazendo o velho ritual dos últimos 17 anos, dizendo que tudo terminaria bem e que você se recuperaria de toda essa árdua e trabalhosa luta de sempre.

Faz um mês desde a última promessa que te fiz: que quando você menos esperasse nos veríamos novamente.
Nos vimos antes do que imaginei - nas condições que ninguém gostaria de encontrar alguém que ama

Faz um mês que não sei como lidar comigo mesmo. Um mês que o pouco que me fazia sentir parte desse mundo se foi. Um mês em que sou mais estranho do que jamais fui.

O tempo passou dolorosamente rápido. Implacávelmente veloz. Como se não respeitasse o luto, a perda, o sentimento. E não respeita mesmo. O tempo não diferencia ninguém.

Faz um mês que vira e mexe meus sonhos me traem, trazendo a tona você viva e bem em minhas memórias, como se nada tivesse acontecido. Numa realidade que ludibria meus pensamentos e me faz acordar deprimido e mais velho do que realmente sou.

Tomo doses cavalares de sobriedade e compreendo que a realidade sempre foi dessa forma fria e dura; como um remédio que cura feridas que carregamos durante a vida, mas nem por isso deixa de ser menos amargo.


- Vinicius Neves

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