25 de junho de 2012

SÃO PAULO


Em São Paulo a garoa vem escorregar do céu
Vem rasgar os rostos assim como se rasgou o véu
Nas escrituras, como também consta nas paredes e nos viadutos
Colorido, preto e branco; onde uma criança pode virar adulto

Entre sorrisos de nervosismo e lágrimas de alegria
Essa cidade rouba nossa juventude mas nos presenteia a cada dia
Nosso espírito é tragado para dentro desse deus pagão
Desmancha rostos únicos para terem a mesma feição

Junto com o crescimento desordenado vem a sujeira em demasia
Falta de sombra nos dias quentes, luzes aos montes nas noites mais frias
Todos querem ser diferentes, mas essa vontade faz com que se tornem iguais
A falta e o excesso de oportunidade faz com que todos sejam rivais

É a maior capital? É sim
Faz a captação de nossos corações, nos deixa mais próximos do fim
É a melhor, afinal? É não
Mesmo assim não conseguimos nos desprender desse chão

A explicação desse vício explica mas não justifica
Aqui nos perdemos em morte, mas ela nos faz encontrarmos em vida
Apesar das descrenças de quem observa nossa labuta
Senta e assiste
Verás que um filho teu não foge a luta.


- Vinicius Neves

17 de junho de 2012

MARAVILHOSO MUNDO


Quando você vem me contar seus problemas
Ou quando ri de alguma besteira que digo
Lutando contra seus próprios dilemas
Ao seu lado é o lugar que fico

Olho para dentro de seus olhos e percebo do porque estou tão ansioso
Sinto melhor tudo ao meu redor e posso assegurar o quanto o mundo é maravilhoso

A cada abraço, beijo, ou palavras de saudade
Tenho vontade de me beliscar e perguntar se realmente isso é realidade
Os olhos não se contem, piscam e brilham ao te enxergar
Fazem de conta que não estão se importando, mas sei que é mentira

Há momento para tudo, cada coisa em seu lugar
Nem sempre o momento é oportuno, nem toda coisa sabe se encaixar
Me faço de tranquilo, mas no fundo sei que sou um tanto receoso
Tenho medo de estragar esse mundo, porque com você ele é maravilhoso

Do fundo de minha alma, sei o quanto quero estar aqui
Embora às vezes fuja de seus raios de sol direcionados a mim
Sou sonhador de tudo aquilo que nem sempre acredito
E gosto de acreditar em tudo aquilo que é possível sonhar

Os raios de luz que atravessam as nuvens para nos mostrar
Um belo arco-iris que possamos admirar
Dizer algo com tanto afinco pode se tornar um tanto quanto pretensioso
Mas o mundo é mesmo um lugar muito estranho, você que o torna maravilhoso.


- Vinicius Neves

11 de junho de 2012

O DOM DE DOM ALMIRO


Hoje parei para pensar a respeito de como somos realmente esquecíveis.
Não, eu não escrevi errado. Somos realmente esquecíveis, por mais que durante algum tempo possamos nos tornar inesquecíveis, em algum momento próximo da história nosso nome desaparecerá.
O que me fez pensar assim? Lembrei do meu avô, Seu Almiro.
Meu relacionamento com família sempre foi bem limitado, mas eu gostava dele. Era um senhor que tinha sérios problemas com controle de raiva, isso foi passando de pai pra filho até chegar em mim; claro que tive que parar e reparar no que estava me tornando e comecei a tomar medidas para ser diferente. Acho que consegui até certo ponto. Na maior parte do tempo sou bem tranquilo.

Mas o que fez com que eu lembrasse dele hoje é o fato de apesar dos defeitos, Dom Almiro tinha um dom único: o de fazer coisas simples se tornarem muito divertidas.
Ele simplesmente amava os netos; e comigo, meus irmãos e meus primos ele nunca foi esse cara explosivo e chato. Muito pelo contrário, nos tratava como criança - é engraçado falar assim, mas hoje em dia vejo que isso era muito importante, não vemos muito disso com as crianças na atualidade; elas são tratadas como adultos - o que na minha opinião é algo terrível e de crueldade imensa.

Meu avô dava apelidos carinhosos para os netos, apelidos sem sentido algum, mas que a gente ria quando ouvia: Tico-Tico, Tutu, etc.
Outra coisa que nos divertia bastante era quando ele cutucava nossa barriga e falava de uma forma muito engraçada "Tchóóóim!" ou então "Pááábife!". Tinha algum sentido? Não, não tinha! Mas mesmo assim ele conseguia tirar altas risadas de todos nós!
Lembro que ele simplesmente adorava jogar dominó e foi com ele que aprendi a jogar. Passávamos tardes inteiras só jogando. Lembro que das últimas vezes ganhei quase todas as partidas e ele não entendia como havia perdido.

Era tudo tão simples, mas hoje reverto essas simplicidade para algo mais complexo:
Do que nós precisamos de verdade? Hoje em dia procuramos sempre entregar aos outros coisas caras e trabalhosas e esquecemos de entregar coisas tão simples e baratas, como por exemplo algo que falta bastante nas famílias: atenção.
Meu vô costumava dar dez reais para cada um dos netos e pedia para irmos "tomar um sorvete" com aquele dinheiro. Era o jeito dele de falar "toma aqui, vai gastar com o que você quiser, contanto que se divirta!". Na época dez reais eram o bastante para comer um lanche, tomar uma coca e gastar muitas fichas de fliperama.

Aonde estamos depositando os nossos "dez reais de sorvete"?
Aonde estamos usando os nossos "Tchóins e Pábifes"?
A quem estamos apelidando carinhosamente?
Para quem estamos ensinando nossas jogadas de dominó?

Meus filhos não saberão realmente quem foi Dom Almiro. Ele se tornará uma lembrança esquecida dentro de poucos anos, assim como eu também serei um dia.
Mas o dom de Dom Almiro, ah, isso sim eu quero para os dias futuros. Um dom desses não precisa ser associado com uma pessoa, precisa ser assimilado e repassado para garantir mais infâncias simples e sorridentes.


- Vinicius Neves