24 de junho de 2013

JOGANDO DADOS


Então num momento de delírio, viu-se despir de seus medos jogou-se de um abismo, rumo ao desconhecido, na esperança de que alguém o segurasse.

O tempo se desdobrou e duas realidades foram observadas.

Fora em uma acolhido por sua amada e seu sacrifício não fora em vão.
Lutou por força de vontade e por fé de que algo miraculoso pudesse acontecer.

Na outra caiu em silêncio por metros e metros de olhos fechados. E quando achou que o amor se aproximava para pegá-lo, na verdade era o chão que decidira ficar parado, esperando o inevitável.


- Vinicius Neves

18 de junho de 2013

A REVOLUÇÃO CHEGOU AO BRASIL


Durante muito tempo fazer piada era a forma do brasileiro mostrar sua indignação com os problemas que sempre sofreu: corrupção, pobreza, desemprego, falta de segurança, falta de voz, dentre tantos outros.
Fomos condicionados a crer que jamais mudaríamos algo e o pequeno conforto - agora entregue facilmente como um belo "cala a boca" do governo - nos mantinha na inércia de apenas reclamar nas filas de banco, nos elevadores, nos sofás e agora com toda a tecnologia: pelo twitter, facebook, etc.
Por mais jovem que eu seja com meus 25 anos de idade, durante muitos anos sonhei com o dia em que houvesse a gota d'água e o povo se levantasse para ir às ruas. Não é equivocado garantir que pensei nisso quase todos os dias da minha vida nos últimos 10 anos.

Nos últimos dias uma força praticamente desconhecida conseguiu juntar milhões de pessoas simultaneamente pedindo atenção para os problemas que o governo tanto ignoram com a sua péssima administração.

E quem diria? A gota d'água viria por 20 centavos. Não que eu ache pouco, pelo contrário, acho um abuso. Nunca entendi o porque do transporte publico ser pago, o país viver numa democracia mas ser obrigado a se alistar aos 18, ou até mesmo obrigado a votar. Entendo a importância de cada um, só não entendo o porque da obrigação.

Estive cobrindo pelo Anonymous Brasil a manifestação de ontem em São Paulo. Andei muito, foram cerca de 4 ou 5 horas caminhando, gritando, filmando. E o que posso afirmar a todos que estão lendo isso é: foi lindo, foi único, foi necessário.

Andávamos pelas ruas, e quem estava nos prédios balançavam toalhas e panos brancos como símbolo de apoio a nossa luta, alguns pararam do lado de fora de seus carros para nos aplaudir, outros ainda nos reverenciavam de suas sacadas em sinal de respeito.

Polícia? Não vi quase nenhum. A impressão que tive é que os poucos que vi tinham vontade de entrar no meio da multidão e se unir a nós.
Um dos gritos de protestos mais repetidos foi: "Que coincidência, sem a PM, não teve violência.".

Os manifestantes de São Paulo foram para três lugares diferentes com três grupos diferentes. O meu foi da Avenida Paulista, houve o grupo que foi parar na Globo subindo na famosa Ponte Estaiada e o terceiro grupo chegou até o Palácio dos Bandeirantes pela Marginal Pinheiros - que a propósito foi dominada e fechada, coisa que eu nunca tinha visto sem algum interesse financeiro. Felizmente tinha amigos em todos os grupos e pude saber exatamente o que estava acontecendo. Gritos como "Ei, Globo, vai tomar no cu!" e "Ei, Dilma, vai tomar no cu!".

A mídia disse que foram 250 mil pessoas. Eu particularmente discordo. Eram tantas pessoas que era impossível saber aonde começava ou terminava a caminhada nos três grupos. Aliás, para que levar em consideração o que ela fala, não é mesmo? As pessoas viram e ouviram que a mídia mente, manipula, joga por interesses. Até mesmo os mais acomodados conseguiram notar isso.
No inicio do movimento, a alguns dias atrás, a mídia falava que éramos vândalos, arruaceiros, baderneiros... foi aí então que a mais eficaz arma de repressão do governo fugiu do controle. Os cães que secretamente guardavam uma sede quase incontrolável de sangue receberam uma ordem do governador: desce a bala.
Foi motivo para fazer aquilo que ansiavam. Praticamente uma carnificina de estudantes, jornalistas e até mesmo de transeuntes que não tinham nada a ver com nada ali.

A mídia se sentiu traída pelo seu amiguinho governo. E a verdade foi vinculada fortemente pela internet. À partir do momento que a mídia não conseguiu convencer mais do que os fatos, ela mudou o diálogo. Agora ela ensina a como protestar passo a passo, fala de liberdade, fala sobre direitos, critica a polícia.

Mas ontem não, ontem o povo fez diferença. O Brasil tremeu e os governantes se esconderam debaixo de suas camas.
Ontem o Brasil realizou um sonho e os governantes não conseguiram dormir.

O Brasil não quer Copa do Mundo, não quer Olimpíadas, não quer Copa das Confederações, não quer Expo 2020. O Brasil quer ser levado a sério, e quer agora.

O orgulho que senti ontem nas ruas foi sentido por outras milhões no País inteiro. Dentro e fora das ruas.
Ainda há muito mais lutas pela frente, mas uma coisa é certa: a revolução chegou e chegou para ficar.



- Vinicius Neves

13 de junho de 2013

CAFÉ DOS DIAS FRIOS


Ele pediu um café.
Pediu por vontade, necessidade, por vício.
Essas manhãs frias pedem algo que esquente o corpo; o ideal é sempre um café fresco por dentro e um amor quente por fora.
Queimou um pouco a ponta da língua e a ponta dos dedos. Ainda não estava bom para tomar.

O vento soprava lá fora carregando dezenas de folhas do outono. Uma parte sua também era varrida, e ele não sabia dizer qual.

O preto do café, o cinza das ruas, o branco do céu; parece que tudo faz parte da escala de cores de sua realidade. Um sorriso amarelo, as bochechas rosadas e os olhos vermelhos.

Muito açúcar para compensar a falta de doçura dos seus dias. O mundo tornara-se odioso e já não esbanjava a alegria e beleza de outrora. A descoberta da verdade por trás dos seres que povoavam esse planeta o atormentavam junto com o perdido pedido de tomar uma bebida quente anos atrás. Os olhos cansados, os pés vacilantes e o sono que insistiam em fadigar eram a prova disso.

O que há de se fazer? O dia, o mundo, e os olhos não vão mudar de uma hora pra outra.

- Mais café, por favor!


- Vinicius Neves