10 de fevereiro de 2014

UM DIA TUDO MUDA


Um dia tudo muda.
Você olha para trás e vê quantas pessoas já passaram em seu caminho e vê que poucas vão se mantendo intactas ao seu lado.

Lembra que aquelas risadas que foram tão valiosas vão ficando cada vez mais no esquecimento, e a indiferença vai ganhando lugar cada vez maior no peito, limpando os restos que ainda restam de amigos, parentes e amores - que um dia tiveram um lugar garantido - agora são varridos para fora. Deixar a casa limpa para novos dias, novas pessoas.

Alguns são tomados de nós, outros vão embora sorrateiramente, e há aqueles que expulsamos. Cansados das más decisões, da falta de interesse, ou simplesmente da superficialidade que o relacionamento era baseado - e relacionamento pode ser tanta coisa, desde da pessoa que você divide uma vida, pensamentos e esperanças; ao garçom conhecido que perdeu a paciência de servir, de entreter, de conversar.

A maioria das pessoas investe tudo o que pode para evitar os conflitos: tempo, dinheiro, atenção... mas qualquer ligação com terceiros está fadado a se manter numa rota de colisão que pode ser suave ou pode ser devastadora. Tudo depende do interesse em diminuir a velocidade desse rompimento.

Alguns ainda se mantém guardados. Tem um baú no fundo do peito que espreme as pessoas que ainda tem alguma importância em nossa vida. Daquele tipo de pessoa que você encontra por acaso na rua, abre um sorriso e promete "vamos marcar algo qualquer dia". E nunca marcamos nada. Por algum motivo o sentimento não é maior do que a estagnação de seguir a própria vida sem o outro. E está bom assim.
O tempo é inexorável, ele leva e traz, carrega e naufraga, nos traga e acorrenta.

Embora seja ótimo afirmar que durante quase toda nossa vida sempre haverá as preciosidades que lutarão ao nosso lado até que um de nós dê seu último suspiro... um dia tudo muda.
Se não mudou ainda, é porque esse dia ainda não chegou.


- Vinicius Neves

UM LIVRO VELHO DE OUTRO


Tudo começou quando eu tinha sete ou oito anos de idade
Era um garoto sonhador, sem nem um pouco de maldade
Acreditava no amor e na felicidade
E no trabalho duro pra superar a adversidade

Tinha na estante um livro velho de um outro Vinicius
Com umas formas escritas e uns desenhos bem bonitos
Minha mãe disse que eu aprenderia, mas ainda não era pra minha idade
Mas a paciência ainda não era maior que minha curiosidade

Pedia para que lessem aquele livro para mim
E fui decorando os símbolos do inicio ao fim
Fui o primeiro a ler e escrever na minha sala
Com o lápis na mão, o mundo explode e não me abala

Também desenhava o dia inteiro
Era o artista da turma; dos traços, o primeiro
Nunca fui muito bom em matemática ou geografia
Meu talento estava mesmo na ortografia

A letra sempre foi feia, a riqueza estava no conteúdo
Comecei uma nova história e criei um novo mundo

Um dia a professora pediu uma redação
Tipo uma carta ou uma declaração
Escrevi o que sentia, até meio consonântico
A professora chamou minha mãe e disse que eu era um romântico

Daí em diante veio a música, as crônicas e filosofias
Tudo aglomerado no mesmo espaço, misturado com poesia
As letras mudaram minha perspectiva de realidade
Com elas desenho sentidos e escrevo minhas verdades

É isso que quero fazer até o fim dos meus dias, até o fim do mundo
Em todos os traços e relaxos, um Nobre Vagabundo.


- Vinicius Neves