28 de junho de 2015

AS PALAVRAS QUE ANTECEDEM AS ONDAS



Como as pegadas apagadas na areia por qualquer outra força maior... frágeis são os registros que em breve não farão mais falta
Como o som ilusório de um oceano gigantesco dentro de uma relez concha
O beijo se perdeu em meio aos muitos caminhos das possibilidades como um eclipse que deixou de se concretizar, perdendo seu momento de poesia

Uma verdade mal contada, uma mentira lavada
O desejo de ser uma fantasia se tornar realidade e mais nada

As doses mais generosas não aplacam, nem as fumaças mais densas enebriam
Os pensamentos que nunca serão - mas que sonham no que seriam
As outras são só as outras: sombras, reflexos, nêmeses de quem abusa
Do sol que queima e apaga quando quer, água que refresca se quiser, indesejada musa

No meio dos loucos provo de minhas proprias tolices
Consequências dos dias livres
Não há reclamação, nem sequer apelo
As coisas são como são, mas só as reparamos quando não nos trazem sossego

Sem titubear as decisões - pois mesmo nas quedas são belas e inspiradoras para mim
Reflexos de duas vias de possibilidades que se repetem sem fim

Foi como o vento ou como a brisa que sopra em nosso rosto
Arrepio da pele que deixa nosso frio exposto
Sem saber seu rumo, é invisível como o vazio e talvez sem maldade
Trouxe de presente uma lembrança que nunca existiu, nem existirá - mas que já deixou rastros de saudade.


- Vinicius Neves

27 de junho de 2015

A RAINHA E SEU TABULEIRO


Sentiu a necessidade de retomar os pensamentos
Mas houve dificuldade em expressar suas vontades e desejos

Perdeu a forma de escrever esse tipo de coisa
Pois a mente sempre maquinava - quase nunca repousa
Talvez então fosse impossível expressar o que inexiste
Porque insiste no erro, e no erro persiste

Afirmando que um sorriso lhe rendeu paz
Da qual talvez não conseguirá escapar jamais
Seria belo, singelo e eterno - se não fosse mentira
Pois este atordoar o faz de alvo para o qual atira

Rir com ela e com ela - notou suas caretas, sustos, palhaçadas
Fez novamente doce a vida, fez valer a pena cada risada
Ouviu sobre defeitos e sobre manias
E na cabeça o pensamento era o de não se importar com nenhum deles enquanto tivesse que tê-los ao lado todos os dias

Novamente a viu aonde os caminhos se encontraram e quis fazer com que eles se tornassem uma encruzilhada sem fim
Colocar mais desse olhar em sua alma; pois lembrava de suas covinhas - que o faziam ter vontade de entender para onde ia, e seguir seus olhos de amendoim

Aguardou teu movimento como as peças de xadrez aguardam os movimentos de um jogo que pode ou não ser ganho
Que deslizam pelo tabuleiro como deslizava os olhos por toda sua extensão e sem acanho
Ele era teu cavaleiro, tua torre, teu bispo, teu rei, teu peão
Se sacrificava pedaço por pedaço para ter a peça mais importante do seu jogo de pé ao invés de guardada em um caixão

Ela era a peça que faltava, era o jogo por inteiro, era o próprio sentido da partida;
Sem ela, para nada serviria o tabuleiro - seria mais um beco sem saída

Até mesmo suas cores não teriam sentido
No final nas contas tudo não passaria de uma perda de tempo
Pois mesmo que esta peça não lhe desse ouvidos
Teria seu valor revelado no merecido momento.


- Vinicius Neves

15 de junho de 2015

UNIVERSO DE VIDRO


Mais uma semana se passa, e o tempo vai permitindo que a alma amadureça um pouco mais. Tome a forma que deveria tomar, encontre os pensamentos que almejava alcançar mas que não encontrava as vias de acesso para tal. Num lapso de segundo, numa metamorfose que chega a seu ápice, desencadeamos aquilo que é mais precioso em nós.

Para cada um é algo diferente, mas para todos há algo em comum: o tempo, a paciência e a aceitação.
Quanto mais faltar em um desses itens, mais precisará de mais do outro.

Somos como aquelas obras de arte feitas em vidro, que precisam ser esquentadas a centenas de graus Celsius para então ser moldada - mas são mudanças rústicas, ainda sem formato específico; com o passar do tempo ela se esfria sozinha e os detalhes podem ser feitos.
Ela não pode ser resfriada de outra forma; acelerar seu processo de resfriamento estragaria a peça por completo. Utilizar o vento deformaria suas curvas, a encheria de bolhas e impurezas, enquanto o resfriamento em água a destruiria totalmente.

Só com algum tempo de espera ela se resfria sozinha e daí então os detalhes podem ser alcançados, as formas ficam mais belas e arte pode ser enfim contemplada como algo puro, transparente, desprovida de imperfeições.
É algo que, sim, pode ser frágil e passageiro. Mas tudo depende de onde colocamos essa peça. Se for tratada com cuidado e carinho, manterá sua forma para sempre. O vidro não se degrada.

Tentamos conquistar o universo ao tentar observá-lo mais de perto, quando muitas vezes o que precisamos é um pouco mais das pequenas coisas que existem ao nosso redor - e que não prestamos atenção.

Nas diversas reflexões e divagações dos últimos tempos, algumas epifanias tem estourado na minha mente como supernovas em uma escuridão sem fim de um novo cosmos.

Compreendo mais ainda que a aceitação dos fatos, não é apenas uma forma de ver as situações de uma forma madura e consciente. É extremamente necessária porque nos permite enxergar os problemas além do emocional que fazem perder a linha do raciocínio, e encontra conforto no descontrole que não cabe a nós querer comandar.
Também compreendi que muitas vezes desistir de algo é a atitude mais corajosa que podemos ter.

Há um bem maior nisso, um "quê" de profundidade que transcede as informações que coletamos ao longo de nossas vidas, e dos ensinamentos que adquirimos dos mais velhos e experientes: tudo está em completa mudança, em completa transição, e muitas vezes nós não podemos fazer absolutamente nada para mudar isso.

Queremos consertar coisas que não estão quebradas, ajeitar pessoas que não precisam de ajustes, controlar sentimentos, situações e momentos que não precisam de mais do que a nossa simples observação. Podemos aceitar ou não o fato de que no final das contas não somos muito mais do que isso, e que podemos apenas decidir se faremos ou não parte dessas histórias.

Há mais de 400 anos, a humanidade foi apresentada ao telescópio - e uma nova forma de ver tudo o que estava distante de nós apareceu. Hoje, aquele telescópio que encantou gênios de sua época já foi aprimorado dezenas de vezes e continuará a ser melhorado cada vez mais, para enxergamos cada vez mais longe.

Porém, jamais inventaram algo para observar melhor as profundezas do nosso Eu como nós mesmos. E nem inventarão. Somos um pequeno infinito que carece de mais atenção consigo mesmo e com outros pequenos infinitos; tendo sempre em mente que somos melhores quando aceitamos a vida como ela é.

Se os planetas, constelações e galáxias pudessem falar conosco e da nossa louca obsessão em assisti-los; talvez nos dissessem o quão pequeno são perto daquilo que é realmente importante em nossas vidas.


- Vinicius Neves