1 de dezembro de 2017

SOMBRAS DO PASSADO


Quando olho para trás vejo um caminho manchado por escolhas ruins
Vejo como minhas expectativas me vendaram e minha confiança me esfaqueou pelas costas

Mesmo quando não vislumbrava grande futuro na experiência gerada dentro do tempo aparentemente perdido
Aos poucos amadurecia frutos que só colheria muito adiante
O caminho que ficou para trás se traz se tornou a sombra da direção que hoje sigo
A esperança e felicidade plena se tornaram protagonistas
De algo que vingou muito além do amor, se tornou minha maior conquista.


- Vinicius Neves

1 de novembro de 2017

PRECISO DE CHUVA


Preciso de chuva para lavar a alma, lavar as calçadas
Deitar no sofá, fechar os olhos e relaxar, sabendo que lá fora a chuva limpa as ruas
Esquecer de qualquer receio e me lavar nela também, como fazia quando era criança

Saudade de parar alguns minutos da minha vida só para sentir a chuva gelada me encharcar
Lembrar que depois dela vem sempre um bom banho quente e aquela sensação de que um peso saiu das costas, foi dissolvido pela chuva

"Você vai se molhar!" - e daí? Criamos algum tipo de pavor de molhar as roupas, molhar os cabelos, os sapatos. Nada disso irá durar para sempre, nada disso será seco para sempre.

Os trovões assustam e impressionam. Cortam os céus por quilômetros e fazem seus relâmpagos clarear os céus cinzentos.


- Vinicius Neves

16 de outubro de 2017

Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola: um raio de coragem no meio do politicamente correto.


Assisti nesse fim de semana o novo filme de Danilo Gentilli: Como se tornar o pior aluno da escola. Gosto do trabalho de Gentilli, li o seu livro, e admito que minhas expectativas estavam pequenas.
Porém, ao ver o reboliço de tantos jornais e jornalistas e críticas da galera que se vê como intelectual e arrojada - que depende arte apenas quando parte dela - não pude controlar a imensa curiosidade em assistir a esse filme que já conta com a melhor estréia de filme nacional de comédia.

O filme em si, é uma epopéia em si; traz elementos nostálgicos de filmes consagrados como Curtindo a Vida Adoidado, Clube dos Cinco, American Pie, e muitas outras. Há piadas nacionais, muitas participações especiais como o excelente Rogério Skylab - que faz um professor completamente aloprado, como sempre há de ter em nossa vida escolar.
Moacyr Franco então, faz uma atuação tão genuína que é dificil imaginar que emburrado faxineiro é um galã da jovem guarda na vida real.
Porém, de todas as participações especiais, Carlos Vilagrán, o Quico do programa Chaves - é um show à parte. Seu portunhol e atuação fazem com quem tiremos muitas risadas durante todo o filme, e apesar de ser o vilão, acaba sendo extremamente carismático. Um nome que precisa ser melhor aproveitado por nós, certamente.

Embora muitas críticas estejam falando mal do filme como se fosse o primeiro do gênero no mundo perfeito do politicamente correto, ressalto que não - não é uma novidade. Não é nada muito diferente de filme americanos que assistimos à exaustão como American Pie, Sexy Drive, Todo Mundo em Pânico, e até mesmo Jackass. O filme tem um ar de Sessão da Tarde, com aqueles filmes leves e engraçados sem muita pretensão. Gentilli acertou em cheio isso. Estávamos com saudade desse tipo de obra, e no Brasil paraece que virou crime fazer algo assim. Os apreciadores da "boa arte" vão crucificar, falar que o filme tem que ser censurado, vão tentar banir o filme, fazer campanha contra. Afinal de contas, é muito melhor ver um velhote peladão brincando "marco-polo" com crianças em um museu qualquer dominado por essas pessoas "de bom gosto".

Devo dizer que o filme me trouxe grandes lembranças, e fizeram com que eu simplesmente gargalhasse no cinema. Chorei de tanto rir. Lembrei da minha época de escola, de como eu e meus amigos aprontávamos, e a guerra que era a coordenadora tentar provar que eu era o responsável por aquilo. Foi uma época mágica.

Porém, há uma mensagem no filme que passa quase que despercebido: o nosso sistema de ensino é muito, muito, muito falho. Ele tenta limitar as capacitações dos alunos por um média que inexiste na vida real. Nota 7 em química, algebra, gramática, física, biologia e etc são o que o mundo te pede? É aquilo que vai te capacitar para um bom emprego? É isso que vai te diferenciar no mercado de trabalho? Ou será que a criatividade, ousadia, empenho contam mais?
Também é falado sobre bullyng no filme. Muito dirão que é apologia, que é um incentivo descarado. Acredito que as escolas, educadores e pais deveriam estar muito mais preocupados a ensinar seus alunos/filhos a lidarem com isso do que achar que reprimindo isso irá ajudar em algo. Não irá. Bullyng não acaba só porque vocês querem que acabe. Tentar proteger de algo tão trivial como isso só faz com que esses aspirantes à adultos se tornem frágeis, manipuláveis, e completamente despreparados para o mundo. Quando for a hora de sair do colégio, terão que enfrentar de frente os problemas que a vida irá trazer, e ninguém mais poderá fazer isso além deles mesmos.

O mundo não dá a mínima se seu filho é sensível.
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Felizmente faço parte da turma do fundão que venceu na vida. E posso garantir que a galera que fazia parte disso comigo também está muito bem de vida. Por mais que a vida tenha dado um caminho diferente a nós, tenho orgulho do tempo que passei com eles e do que eles se tornaram hoje.

Como se tornar o pior aluno da escola é um filme corajoso, de uma forma que muitos outros nomes de nosso cinema deveriam se inspirar. É humor "pastelão", é filme de besteirol, é um dos melhores filmes do ano.
Quem for não vai se arrepender.


- Vinicius Neves

18 de setembro de 2017

O repúdio da mídia brasileira para com o filme: Policia Federal - A lei é para todos


NÃO É DE SE ESTRANHAR que um filme como "Polícia Federal - A lei é para todos" está com tão pouco espaço nas mídias brasileiras.
Não vejo "chamadas" nos sites, não vejo críticas, só encontrei uma ou outra notícia porque tive que pesquisar no Google.

Dentre vários fatores lógicos e já conhecidos, demonstra como a mídia tende sim à política e políticos da esquerda; todo aquele papo furado de "Globo golpista", "mídia parcial (à favor da direita)" e tudo o mais cai completamente por terra.

Imagino que muitos irão lembrar da repercussão que foi o filme contando a "estória" de Lula. Em toda mídia era notícia, a Globo mesmo passa o filme quase que como uma ritual anual. Tal como "paixão de Cristo" no Natal.

Sabem o porque disso tudo? Porque essas mídias e representantes das mesmas nunca lucraram tanto na história de suas empresas como nos 13 anos de governo Lula e Dilma. Todo o conluio para que o poder se mantivesse entre as mesmas pessoas, beneficiando as mesmas administrações, os mesmos nomes da comunicação, os bancos, e tantos outros personagens poderosos que se escondem por trás de famosos logotipo.

O fato do filme ser tão pouco mencionado entre grandes veículos midiáticos só ilustra mais como a operação Lava-Jato e o filme demonstram claramente que poder desses governos foi alcançado e mantido usando todos os recursos possíveis: comprando gente poderosa de todas as esferas.
E não se engane: outros partidos como PMDB, PSDB, DEM, PSoL e tantos outros também fizeram e fazem parte disso até os dias de hoje. Mas o intermédio dos famosos nomes do Partido dos Trabalhadores já não podem mais garantir a eficácia dos grandes esquemões.

Acha mesmo que as grandes mídias ficariam de fora dessa?
 
 
- Vinicius Neves

11 de setembro de 2017

Crítica: Policia Federal - A lei é para todos.


Na última semana foi a estreia do filme "Policia Federal - a lei é para todos". Título clichê. Apresentação mais ou menos. Cartaz sem criatividade. Divulgação praticamente inexistente.

Ao me deparar com o filme em si, vi um enredo comum do dia a dia de uma força policial como se vê em qualquer programéco em algum canal pago. O dia a dia com casos a serem solucionados, os sentimentos, as interações, e a busca por um criminoso: Alberto Youssef - um doleiro já conhecido por seu envolvimento no famoso esquema do Banestado, responsável pela envio ilegal de 19 bilhões de dólares para fora do país.
Esquema esse que tivera entre os indiciados nomes como Gustavo Franco (presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso [PSDB]), ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (PT) (falecido) e mesmo Samuel Klein - até então dono das Casas Bahia (também já falecido).

A empreitada em busca de um esquema de doleiros - estes, que negociam dólares americanos no mercado paralelo, sem as devidas taxações e burocracias do governo, agora sendo cruzado com um esquema de tráfico de drogas. Não se preocupem, isso não é bem um spoiler. Está no trailer.

Resumindo a ópera, quanto mais a força tarefa da Policia Federal foi puxando a linha do dinheiro, mais nomes iam aparecendo. Nomes influentes de empresários como Marcelo Odebrecht. Doleiros. Traficantes. Juízes. E.... políticos. Como não podia deixar de ser.
Todo o esquema de lavagem de dinheiro que envolvia inclusive postos de gasolina não poderia levar outro nome senão "Operação Lava Jato".
Aí é que a coisa fica interessante: com o tempo, paciência e expertise que somente profissionais bem treinados como os da PF poderiam ser, logo chegam a nomes de grande poder em atuação na política. O que nos leva ao Partido dos Trabalhadores (PT) e ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

O filme é, de forma técnica, bem feito. Boa fotografia, bom enquadramento, diálogos bem equilibrados com inicio, meio e fim. A direção não é algo completamente inovador - e isso é ótimo. Porque a importância de um filmes como esse estão nas informações, sem se tornar maçante.

Agora, de forma prática, pessoal, política, esse filme é o mais corajoso que já deu as caras em nosso país. O roteiro conta de forma clara (e obviamente, resumida) como a investigação chegou a nomes como Luís Inácio "Lula" da Silva e Dilma Rousseff.
Mostra como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST) são utilizados como massa de manobra - influenciado por seus líderes, muito bem pagos por Lula.
Mostra como as pessoas comuns que seguem os partidos de esquerda são manipulados, demonstra claramente a manipulação da mídia para deturpar a operação - fazendo parecer uma perseguição política. Está lá. Preto no branco. Explicado e mastigado a quem quiser entender.
Explica até como o Supremo Tribunal Federal (STF) é quem libera vários processos contra pessoas que tem foro privilegiado como senadores e outro políticos envolvidos. E como foi isso que aconteceu no caso no Banestado.

Pude vivenciar os dois lados das manifestações de 2013 para cá e desde então tenho lido muito a respeito de todo e qualquer tipo de notícia que tenha a ver com o que se sucedeu dali em diante. O filme narra a verdade de forma primorosa e como eu disse: extremamente corajosa. Narra eventos, nomes, partidos, organizações. Sem medo de represálias. Sem medo de serem atacados. Sem medo da feroz violência que tem sido arremetida toda a questão política de nosso país - que para ser completamente honesto, não está do nosso lado. Não está do lado das pessoas comuns. Não importa o político, o partido, a sigla, a organização, o sindicato, a alcunha, o dinheiro, a profissão, a popularidade. Crime é crime. E todo crime carece de sua devida punição.


- Vinicius Neves

1 de agosto de 2017

SOBRE PESSOAS E PERSONAS


Até onde vai o ego do ser humano?
Não foquemos em questão externas, em personalidades que conhecemos apenas pelas manchetes dos jornais ou por feitos que enxergamos apenas pela pouca informação que conseguimos acessar - longe dos bastidores. Falemos de nós mesmos.
Falemos de como se esconder em palavras vazias, repetidas e ideológicas - que muitas vezes não deram certo na história da humanidade se tornam mais que um escudo para ocultar a ignorância política, intelectual e econômica. Por vezes, mesmo quando estes sabem que estão errados ou equivocados, não sabem assumir suas falhas, e insistem em apoiar os erros ou desviar a atenção dos fatos - motivo pelo qual estamos passando por boa parte dos problemas atuais.
Não há problema em mudar de opinião. Não há vergonha em aprender mais do que achávamos que sabíamos.
O que preocupa é a última geração que se levantou (da qual também fiz parte durante algum tempo). Doutrinadas por livros de cunho parcial nas escolas, por pessoas igualmente doutrinadas, ensinadas a não pensar por conta própria, mas a seguir à risca uma utopia sem fundamentos sólidos.
Preocupa o exemplo que essas pessoas querem dar para as próximas gerações: o linguajar, as atitudes - que vão de compartilhar desinformação generalizada a defender o crime com sua parcialidade.
Desculpas para isso não faltam. A cada passo que as pessoas de pensamentos diferenciados das dela dão, as desculpas mudam. Se a desculpa é refutada, é dada outra; e assim por diante. Os que estão na mesma situação ovacionam a situação, criam termos de cunho taxativo, usam argumentum ad-hominem para desqualificar uma verdade.

É um show de horrores.
Me pergunto se em países em que a situação já foi parecida com isso, mas que chegaram a níveis extremos (como é o caso Venezuela); se as pessoas que eram assim permanecem assim. Sempre existirá essa arrogância em querer ser superior a tudo e a todos, inclusive na ignorância. Um ser supremo que nunca assume sua fragilidade, falta de informação sobre algo. Para esses tipos, não importa a patente, grau de escolaridade, transparência e comprovação dos fatos; o que ele acredita é que é o certo.
Infelizmente a autocrítica é algo que só funciona para que os “outros” usem. A busca de conhecimento é apenas uma jornada que os “outros” deveriam fazer. Porque nesse meio a qual me refiro, está tudo certo e alinhado como nunca - só melhora se não houver ninguém pra discordar.

Quando há dúvidas sobre esse tipo de personagem e de suas personas destacadas nos meios sociais - sejam virtuais ou não; é sempre bom lembrar que “A boa árvore se conhece pelos frutos”.
Se a pessoa não está dando frutos - ou pior: não está dando bons frutos - no mínimo, desconfie. O discurso pode ser bonito, as palavras enfeitadas, as atitudes parecerem reais; mas quando damos um passo para trás a fim de enxergar a pessoa como um “todo”, o que será que enxergaremos na vida dela? Talvez a diferença que mude o mundo. Talvez o mundo que mudou sua “diferença”.


- Vinicius Neves

1 de junho de 2017

O VELHO SAMBISTA


O velho sambista disse que não dá pra correr atrás de tudo nessa vida
Aqui como meros personagens de um enredo, mexemos em nossas próprias feridas

Temos receio de deixar o passado ir embora
Saudosos pensamentos castigam a memória
O que há de vir também é tratado com receio
Somos tolos guiados por cegos em meio a um devaneio

Devaneio chamado de "expectativa"
De vida, de noticias, de história atribuída

Investimos muito e recebemos pouco
Procuramos por tesouros que costumam ter fundo oco

Seria loucura achar que estamos em um samba repetitivo?
Cantado e tocado em looping tanto; até que o tempo deixasse de ser atrativo?


- Vinicius Neves

18 de maio de 2017

ISSO PASSARÁ


Não me pare agora

Sou um pássaro voando no olho do furacão
Resistindo às tormentas sem encharcar minha atenção
Sou o foco e a mira dos tiros mais certeiros
Perdendo minhas metades, me encontrando por inteiro

Os avassaladores ventos do norte tentam me derrubar mas resisto com raízes fortes
Minha vitória se multiplica, não importando a quantidade de algozes
A areia que escorre da ampulheta mostra tudo o que pode ensinar
Não importa se o tempo é bom ou ruim, saiba que isso passará

Olhando para frente e saber que todo final é um novo recomeço
Olhar para trás e ver que as dificuldades não passavam de pequenos tropeços.


- Vinicius Neves

6 de abril de 2017

DE ASAS CORTADAS


Essas vozes do meu peito que não se calam

Remexem a cada memória, a cada momento
Transbordam da minha alma as ânsias de meu tormento
Os conflitos que tenho comigo mesma vão aos poucos tomando conta da minha paz
Presa nessa dança caótica da qual já não aguento mais

A luta dos meus sentimentos que se embaralham em crises de ansiedade
São milhares de vozes gritando cada uma sua própria verdade
Não procurem mais meus pensamentos, me esqueçam de suas ciladas
CALEM-SE e me deixem sumir no vazio do nada

Minha voz some na medida em que meu coração aperta
O choro insiste em chover por minhas janelas abertas
Nas noites em claro preencho o medo com esperança
Então vejo melhor aquilo que a vista ainda não alcança

Estou numa prisão ao ar livre, entende a ironia?
Mas não será sempre assim, eu acredito em minha alforria
Quando as vozes se calarem por trás de qualquer grade
Nesse momento então saberei onde está minha liberdade.


- Vinicius Neves

10 de março de 2017

FASCINIO



O fascínio se esconde em tantas coisas e de formas tão diferentes.
Cada um a observa de forma única, a usa para colorir seus pensamentos e clarear as ideias, as inspirações.

Como a vida que é dada e tirada, uma mágica que é contida na essência do ser e da existência. Algo que muda a percepção de todos ao redor a cada novo fenômeno.

A música que altera o estado espiritual de cada ser vivo, transforma humores, valores. Incrementa os pensamentos, cultiva sentimentos e traduz aquilo que não sabemos como expressar.

A empatia, compreensão e permissão de alguém ferido em continuar sua luta diária, a entrega incondicional em fazer o que é certo a quem muitas vezes não conhecemos.

A sensação de ver uma criança com nosso olhar, nossos traços, sorrindo.

A sensibilidade em compreender as sutilezas entre o poder e a serenidade de animais grandes e majestosos como as baleias; um poder tão destrutivo controlado pela calmaria e equilíbrio que todos deveriam aprender.
Assim como todos os animais, que designam seus papéis da natureza de forma magistral.

O sentimento de união e euforia que é estar em um estádio de futebol - mesmo com pessoas que não se conhecem - se juntando em um único tom de companheirismo e interação a mesma luta, a mesma torcida, o mesmo brado.

Como o tempo pode se dividir de tantas formas e fazer com que o presente se torne uma dádiva, uma surpresa, uma honra.

Talvez sejamos todos partes de outros universos que não conhecemos, tão ricos e grandiosos como esse que nos rodeia. O ponto de vista de cada pessoa pode ser isso.
Somos uma explosão de estrelas dos universos alheios, e a nossa consciência se espalha pelo cosmos social de forma quase que infinita. Temos conhecimento de nossa breve passagem, e tentamos ao máximo causar impacto nessa existência.

Cada fascínio do dia a dia que faz tudo valer a pena.


Vinicius Neves

23 de fevereiro de 2017

DESTINO



Se não houvesse o caos na cidade
Se não houvesse aquela viagem
Se não houvesse aquele contato na agenda
Se não houvesse a curiosidade naquela tarde cinzenta
Se eu não comentasse naquela foto cheio de jargões
Se eu não mandasse aquela mensagem com segundas intenções
Se ela não tivesse continuado a conversa quando tudo parecia estar perdido
Se ela não aceitasse meu convite sem sentido
Se ela não se esforçasse para ter vindo
Se eu não tivesse cantado Jorge Vercillo
Se ela não tivesse demonstrado um certo nervoso
Se eu não tivesse me aproximado de seu pescoço
Se ela não estivesse com as pernas tremendo de ansiedade
Se eu não tivesse dado aquele beijo com vontade
Se ela não tivesse abraçado meus problemas como se fossem dela
Se eu não voltasse toda minha vida para ela

Talvez tudo fosse diferente

Dizem que existe um tal de "destino" - e que ele é o vento que conduz o caminho de todas as folhas
Porém acredito que isso nada mais é que a soma de todas as nossas escolhas.


- Vinicius Neves

15 de janeiro de 2017

IMPULSOS


Fabio acordou nervoso naquele dia.
Pegou as chaves da moto e vestiu a jaqueta de couro que Fernanda tinha lhe dado no ultimo natal.
A carta de amor estava em cima da mesa de jantar - estrategicamente posicionada para que não fosse esquecida quando saísse. Ansiava pelo encontro, pela surpresa, pelas fortes emoções.

O anel de noivado sofrera um pequeno acidente e estava com um pequeno arranhado - que provavelmente passaria despercebido entre tantos sentimentos alvoraçados. Tudo tinha que sair perfeito.
Fernanda (ou Nanda para os mais íntimos) conheceu Fabio depois de uma época difícil de sua vida: sofria de depressão; e foi nos vai e vens do consultório do psiquiatra que conheceu Fabio - saindo de mãos abanando da fachada do consultório.
- Você também foi ao consultório do Dr. Torres?
- Claro. Acabo de vir de lá.
Uma curiosidade daquela época era que ele sequer tinha entrado no consultório. Tinha voltado atrás no último segundo.

Porém, essa conversa despretensiosa rendeu um ano e meio de namoro. Fernanda nem precisava mais de seus antidepressivos. A velha mania de sentar no parapeito da ponte Estaiada, pensando em um fim rápido foi substituída por encontros secretos na calada da noite.
As pessoas poderiam interpretar mal: Imagine trocar o lugar onde supostamente uma atitude impensada poderia dar fim aos seus dias por noites acaloradas de beijos sob as estrelas.

Fabio avisou que atrasaria dessa vez. Acontece.
Quando por fim chegou, o sorriso de Nanda irradiou no meio da noite. Seus cabelos flutuavam levemente com a brisa fresca e ele pôde sentir em seu hálito um cheiro doce de fruta. Ela adorava chiclete de morango.
Deram um beijo como se não houvesse amanhã, a lua ardia em brilho.

Ele sorriu e disse:
- Trouxe algo para você.
- É?
- É.

Puxou do bolso interno da jaqueta um anel que embora muito desejado naquele instante só poderia tomar seu lugar de direito depois de lida a carta de amor cuidadosamente escrita à mão.

Nanda se empolgou e começou a ler em voz alta, o sorriso quase que alcançava cada uma das orelhas.
Mas então parou de ler e seu rosto se desfigurou parar uma expressão completamente preocupada.
Parou de ler a carta. Já sabia o que havia escrito nela.
Fabio tinha a chave se seu apartamento e de algum jeito conseguiu encontrar essa carta.

Fabio se aproximou mais ainda de Nanda que começara a encher os olhos de lágrimas.
- Isso não significa nada
Olhando do chão ao rosto dela, Fabio se moveu vagarosamente e respondeu:
- Eu sei.

Então empurrou a moça - que caiu de costas rumo ao caminho que nunca tivera coragem de percorrer.
O anel foi para a água em seguida, logo chegando ao seu fundo.
Olhando uma ultima vez a carta que tinha um tal de "Julio" assinado no final - antes de amassa-la e trazê-la novamente para seu bolso, Fabio desabafa:
- Eu sei.


- Vinicius Neves