31 de março de 2015

TRANSCENDENTE PERSONA


Sou um remendo do que fui outrora
Perdido no tempo, na ponta do ponteiro, no meio das horas
Fui um eu que a tempos atrás - não me reconheço mais
Serei um dia, talvez a agonia de alguém atormentado por suas escolhas

Por suas tralhas, por suas decisões demoradamente pensadas e falhas
Mas também por outras improvisadas em maestria
Sou obrigado a conviver com a pena, às vezes até agonia
Transcrevendo meu íntimo para o papel porque ainda é o único remédio que alivia

Rabisco a alma por dentro, a vandalizo com bic e nanquim
Cada linha contendo garranchos ilegíveis que guardo só para mim
Mesmo assumindo a transcrição, a grafia, vá saber pra que é que serve essa tal poesia
Tentar decifrar um pedaço sequer desse enigma, é clamar pela perda de um dia

Cada um com sua complexidade
Transcende o corpo a mente, a idade
Sendo que a certeza é uma mera ilusão
Só o que há presente é a oportunidade

Tendo ciência disso, arrisco meus passos no desconhecido
Ousando dar as mãos para a sorte
Brincando de ciranda com uma dama de rosto coberto
Sem saber se ela é a Vida ou se ela é a Morte

Quem sabe um dia eu possa deitar e contar segredos no travesseiro
Segredos que eu sempre quis contar

Sossegar deleitar, descansar
Quem sabe chegar aos confins do universo, da tranquilidade
Essa que ansiamos durante toda nossa vida sem saber se ela existe de verdade

Firmo então meus pés nessa estrada
Pois essa sempre foi minha morada
A quem encontrar pelo caminho
Saiba que não precisam andar sozinhos

Gentilmente cedo minha mão para segurar
E minhas costas para carregar o seu peso

Abro um sorriso para a fé
Pois essa nunca foi abandonada
Apesar de tudo continua fortalecendo minhas pernas
E fazendo sonhar que um dia vou chegar na paz tão desejada.


- Vinicius Neves

18 de março de 2015

OLHEIRAS AMARGAS


Amanhã já faz um mês

Um mês que não sei mais como conversar contigo sem depender da famigerada tecnologia que você tanto se empenhava em aprender; mas que sempre pedia ajuda por se esquecer como funcionava.

Um mês sem ouvir tua voz no telefone; dizer que te amo mais que tudo e que daria o mundo pra te ver bem, te ver feliz, e ouvir seu sorriso do outro lado da linha, sabendo que você passou o dia inteiro esperando ouvir isso.

Um mês desde a última vez que me disse que mesmo que já tivéssemos nos visto trinta dias antes, você já estava com saudade e que não via a hora de estar comigo novamente.

Um mês desde a última vez que te consolei; fazendo o velho ritual dos últimos 17 anos, dizendo que tudo terminaria bem e que você se recuperaria de toda essa árdua e trabalhosa luta de sempre.

Faz um mês desde a última promessa que te fiz: que quando você menos esperasse nos veríamos novamente.
Nos vimos antes do que imaginei - nas condições que ninguém gostaria de encontrar alguém que ama

Faz um mês que não sei como lidar comigo mesmo. Um mês que o pouco que me fazia sentir parte desse mundo se foi. Um mês em que sou mais estranho do que jamais fui.

O tempo passou dolorosamente rápido. Implacávelmente veloz. Como se não respeitasse o luto, a perda, o sentimento. E não respeita mesmo. O tempo não diferencia ninguém.

Faz um mês que vira e mexe meus sonhos me traem, trazendo a tona você viva e bem em minhas memórias, como se nada tivesse acontecido. Numa realidade que ludibria meus pensamentos e me faz acordar deprimido e mais velho do que realmente sou.

Tomo doses cavalares de sobriedade e compreendo que a realidade sempre foi dessa forma fria e dura; como um remédio que cura feridas que carregamos durante a vida, mas nem por isso deixa de ser menos amargo.


- Vinicius Neves